domingo, 17 de agosto de 2008

Um homem chamado Dominique




Post rápido para dar uma dica: Dominique Leone, texano com nome de francesa que faz um som que parece mistura de Beach Boys com Pink Floyd com Aphex Twin. Não vou falar mais porque estou fazendo uma resenha pro rraurl do disco de estréia do cara, que, aliás, dá pra baixar aqui.

sábado, 9 de agosto de 2008

Colapso

Em 1985, os alemães do Einstürzende Neubauten foram se apresentar em Tóquio. O cineasta Sogo Ishii, conhecido no underground japonês pela ligação com o punk rock local, aproveitou a deixa e resolveu fazer um filme com a banda. O nome da obra-prima nascida do encontro é Halber Mensch, que significa meio-humano, sub-humano. Com quase uma hora de duração, não é um documentário, nem uma compilação de clipes e muito menos um musical: é um filme sem história (o que não significa sem roteiro ou sem coesão) que mescla apresentações ao vivo, cenas bizarras e até um número de butô moderno.

Einstürzende Neubauten significa algo como “as novas construções estão em colapso”, em referência à arquitetura alemã pós-segunda guerra mundial. A partir de 45, as construções passaram a ser feitas com materiais baratos e, por isso, ficaram mais sujeitas a desabamentos. Humor negro do destino, dia 21 de maio de 1980 (menos de dois meses após o primeiro show da banda, ocorrido dia 1º de abril), um pedaço do prédio do Congresso (uma das novas construções mais famosas de Berlim) desabou. Mas seria estreito demais interpretar o nome da banda apenas em seu sentido literal: o que estava em colapso não eram apenas as novas construções, e sim a nova sociedade como um todo, que tinha no muro de Berlim o exemplo máximo de sua falência. Assim como os dadaístas expunham o horror da primeira guerra mundial em obras carregadas de sentido algum no início do século 20, o Einstürzende Neubauten (que, inclusive, é bastante influenciado pelo dadaísta Kurt Schwitters) retrata a decadência da civilização industrial com seu som quase insuportável.

Halber Mensch começa com imagens de um ferro velho. Dentro de um galpão abandonado, cheio de pedaços de concreto e ferro retorcido, a banda executa “Armenia”, “Sehnsucht”, “Abfackeln!” e “Zars torte zelk”. Canos, carrinhos de supermercado, serras, furadeiras viram instrumentos musicais nas mãos dos percussionistas F.M. Einheit e N.U. Unruh. Mas não se trata de nada no estilo Stomps: o som tirado dos objetos é desagradável, amorfo, enlouquecedor, assim como a civilização industrial da qual provêm. Os vocais ora gritados, ora sussurrados de Blixa Bargeld complementam o clima de desespero que paira sobre quase todas as faixas, nas quais elementos básicos da música ocidental como ritmo, tonalidade e melodia são reduzidos a pó. Na minha opinião, a mais interessante é “Zars torte zelk”, com uma linha de baixo de sonoridade tétrica sendo repetida ad infinitum. Embora as notas sejam sempre as mesmas, a intensidade muda de acordo com as variações do vocal de Bargeld, que também serve de guia para Einheit e seu carrinho de supermercado que, ao final da música, está parcialmente destruído.

Este clima de decadência é a tônica do filme, tanto musicalmente quanto em termos de imagem. Tão insólitas quanto perturbadoras, elas incluem um pedaço de carne sendo devorado por vermes, um gato em decomposição sendo levado para passear na praia e cenas de demolição, além do insano número de butô da companhia DaiRakudokan. O desespero parece estar impregnado nos movimentos, no figurino e na maquiagem dos bailarinos. Com “ZNS” como “trilha sonora”, é como se duas culturas distantes (a japonesa e a alemã) encontrassem um ponto de intersecção no pesadelo contemporâneo. O colapso. O colapso.





Tracklist:
Armenia (live)
Sehnsucht (live)
Letztes biest
Abfackeln! (live)
Zars torte zelk (live)
Halber mench
ZNS
Die Zeichenungen des patienten 0.1 (live)
Der tod ist ein dandy (live)
Schaben

Torrent aqui.