terça-feira, 30 de junho de 2009

Black metal

Já estava ensaiando falar sobre black metal aqui há algum tempo, e quando fiquei sabendo dessa entrevista com o Thurston Moore pensei: é agora.

Na verdade, eu detesto black metal. Boa parte da minha birra com o gênero se deve às maquiagens e roupas ridículas, aos clipes ainda mais ridículos (sério, eles acham que assustam alguém??), ao ódio fundamentalista à religiosidade e ao famoso Inner Circle. O tal círculo era formado integrantes de bandas norueguesas de black metal que, nos anos 90, foram responsáveis pelo incêndio de igrejas - isso sem contar a simpatia declarada dos caras pelo nazismo e alguns casos de assassinato. Mas uma coisa eu admiro no pessoal do black metal: a capacidade de produzir o estilo de música mais anti-musical que existe. Enquanto um vocalista ensandecido berra letras incompreensíveis com voz de demônio recém-nascido, o baterista soca o instrumento na cabeça de cada um dos tempos e os guitarristas cometem frases completamente sem pé, cabeça, apelo melódico e suíngue. É um gênero musical tão tosco e insuportável que, depois de ouvir umas duas "canções" de bandas como Satyricon ou Darkthrone, música eletroacústica passa a soar como o Quebra-Nozes do Tchaikovski.

Outra coisa que me fascina (morbidamente) no black metal são as figuras, principalmente aquelas ligadas ao nefasto Inner Circle e principalmente o nefasto-mor Varg Viekernes. Currículo do cara: além de ser o (único) homem por trás da banda Burzum, ele queimou algumas igrejas durante os anos 90, matou o amigo Euronymous (integrante da banda Mayhem) com mais de VINTE facadas, e criou, na cadeia, uma ideologia chamada "odalismo", que consiste no mais puro e abjeto nazismo com um nome novo. Uma visita pelo site do Burzum vale mais do que mil teses acadêmicas sobre psicopatia - lembrando que, como a maioria dos psicopatas, Varg é inteligente e expõe suas ideias com clareza. O que me deixa mais boquiaberta são as fotos e vídeos de Varg no julgamento que o condenou a vinte anos de prisão pelo assassinato do amigo. Primeiro porque ele tem uma carinha de anjo assustadora - no dia em que apareceu de trancinhas a la Pocahontas então nem se fala... Segundo porque o sujeito se comporta como se estivesse em um passeio no parque e quando recebe o veredicto de que passaria as próximas duas décadas encarcerados ele sorri como se estivesse em um passeio no parque E encontrasse o vendedor de algodão-doce. Espia:



Pelo jeito não sou só eu que fico passada com a história desse maluco, tanto que ouvi por aí que logo logo Varg irá ganhar uma cine-biografia. Enquanto o filme não vem, o Youtube nos fornece esse documentário, chamado Satan Rides the Media, sobre a cobertura que a imprensa norueguesa fez dos atos de Varg:



Também imperdível é o web documentário sobre Gaahl, do Gorgoroth, outra figurinha doce que torturou um cara durante seis horas e quase matou um dos caras da equipe de filmagem quando levou o pessoal para um passeio pela floresta:



Para fechar o momento youtube satânico, a coleção masculina que Alexandre Herchcovitch bolou inspirado no black metal (aliás, no black metal norueguês, também chamado de true norwegian black metal). Nem os fashionistas escapam do encanto sinistro...

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Clássicos do dia 7: My Bloody Valentine - Loveless



Música gasosa

Além do stress, da preguiça e dos problemas tecnológicos, demorei (muito!) para fazer essa resenha porque minha opinião sobre o disco sofreu constantes mutações conforme fui ouvindo e reouvindo. Como não pretendo fazer a crítica definitiva de nenhuma obra, apenas expor meu ponto de vista (fundamentado, por favor), vou dar uma de umbiguista e narrar minhas diversas reações a Loveless, do My Bloody Valentine. A partir dessa experiência pessoal, espero chegar a conclusões que não digam respeito somente a mim mesma. A explicação tá confusa, então vamos aos fatos.

A primeira vez que ouvi My Bloody Valentine, em 2006, fiquei passada. Estava assistindo à MTV de madrugada, quando passou o clipe de “Only Shallow”. A confusão sonora provocada pelas camadas de guitarras extremamente distorcidas, a voz sussurrada de Bilinda Butcher, o clima melancólico... corri para o Kazzaa (afinal, era 2006 e eu sou meio lerda com tecnologia...) e baixei mais algumas canções do grupo. Quando resolvi fazer a resenha de Loveless no Clássicos do dia 7, conhecia apenas algumas músicas do disco e sabia da importância dele para o tal rock alternativo/experimental/indie. Baixei o álbum pelo Torrent e fui ouvir. E aí rolou uma decepção.

Em vez de música elaborada em diversas camadas, ouvi apenas duas guitarras com toneladas de overdrive executando acordes completamente usuais (powerchords talvez), uma bateria sem nada de especial e baixo idem. As tais camadas não eram camadas reais e sim um efeito provocado pelo excesso de distorção nas guitarras. Era um truque, portanto. O áudio extremamente abafado e os finais abruptos das canções também me incomodaram.

Mas ainda assim elas continham uma beleza melancólica que me atraía. Mesmo sendo um truque, ainda dava vontade de fechar os olhos e se deixar levar. E então fechei os olhos e ouvi o disco novamente. Percebi um teclado escondido aqui, alguns coros ali, uma guitarra ruidosa acolá (ruidosa não no sentido de distorção mas no de barulho sonicyouthiano). As camadas existiam, enfim. O My Bloody Valentine pode não ser genial como Radiohead, mas também não é uma farsa elevada ao hype por algum crítico incauto.

O áudio abafado e comprimido e a ausência de dinâmica também deixaram de parecer um erro de mixagem/masterização. Passei a compreender esses “defeitos” como propositais, como ferramentas utilizadas para aumentar a confusão sonora. Esse imbroglio instrumental acompanhado de letras pronunciadas em um inglês ininteligível por uma voz suave que parece cochichar em vez de cantar tornam Loveless um conjunto de onze músicas que podem a qualquer momento se desmilinguir, derreter, virar gás. Matéria amorfa que envolve o corpo do ouvinte despertando uma vontade irresistível de fechar os olhos e balbuciar aqueles versos criptografados ou de simplesmente dançar cabisbaixo – talvez venha daí o nome shoegazer, rótulo que os críticos de música colocaram no som do grupo.

Destaco as faixas “Only Shallow”, que abre muito bem o disco e não por acaso foi escolhida para virar clipe, “I Only Said”, com a frase de sintetizador (ou seria voz?) que surge como uma boia em meio ao mar revolto, e a doce “Blown a Wish”.

Dá pra baixar em FLAC aqui.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Por essa nem Jack Sparrow esperava...


Depois da palhaçada sem-graça da condenação do The Pirate Bay, uma boa notícia: o Pirate Party, nascido na Suécia (também terra do TPB), acabou de ganhar DUAS cadeiras no PARLAMENTO EUROPEU. Das 18 cadeiras que a Suécia tem à disposição no parlamento da UE, duas estão com nossos queridos piratas. E os verdes europeus também estão levantando a bandeira negra da cultura livre.

A luta é lenta, penosa e desleal, mas as primeiras batalhas já estão sendo ganhas. Como diria o próprio The Pirate Bay: "Os mocinhos sempre vencem no final. Isso foi a única coisa que Hollywood nos ensinou".

domingo, 7 de junho de 2009

mais uma bola fora...

Por problemas tecnológicos (leia-se: torrent que não chega nunca), o Clássicos do dia 7 fica pra depois. Mas juro que nesse mês vai ter... só que não no dia 7...

Já adianto que será sobre o belo e melancólico Loveless, do My Bloody Valentine. Enquanto a resenha não vem, ofereço a companhia de "Only Shallow", faixa que abre o álbum - além de ter sido a primeira música do My Bloody Valentine que ouvi...

My Bloody Valentine - Only Shallow

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Algumas rápidas considerações sobre Babe, Terror

Baixei ontem o primeiro disco do Babe, Terror, one man band brasileira que causou furor na imprensa estrangeira com Nasa, Goodbye e, consequentemente, acabou causando furor na imprensa nacional também. Ainda não ouvi inteiro e diversas vezes, mas já me arrisco a fazer algumas considerações sobre o trabalho.

Babe, Terror tem como proposta fazer colagens vocais, ou seja: ele grava algumas frases musicais, murmúrios, sussurros e barulhos com a voz e depois monta o quebra-cabeça em um programa de edição sonora. A ideia é ótima e a intenção é das melhores, mas o resultado deixa muito a desejar. E o motivo é dos mais bobos: a tosquice da gravação e da edição, que faz com que uma proposta musical original e interessante se transforme em um desfile de chiados insuportáveis e de colagens tão mal feitas que dá para saber exatamente onde a faixa de áudio foi cortada e emendada.

Esse negócio de fazer música de qualquer jeito remete ao "Do it yourself" do punk, que com certeza foi uma revolução: "Se expresse mesmo que você não domine a técnica de tal forma de expressão". Frutos desse pensamento podem ser encontrados no funk produzido nos morros cariocas ou no tecnobrega paraense, só para citar exemplos brasileiros. Quando representa uma possibilidade de espaço para a criação, fazendo a massa passar de consumidora passiva a criadora de cultura, o tal DIY é muito bem vindo. O que não pode acontecer é isso servir de pretexto para a preguiça. E é isso o que acontece com Babe, Terror.

Vamos aos fatos: o homem por trás desse projeto é Cláudio Szynkier, repórter de música do site Trama Virtual. Não é um pé de chinelo da Rocinha ou da perifa de Belém, e sim um morador do bairro de Perdizes, reduto da classe média alta paulistana. Portanto, o único motivo para uma produção tão descuidada é preguiça pura e simples. E o único motivo para a imprensa estrangeira ter babado o ovo no trabalho do cara e não citar nenhuma vez a tosquice do áudio é a boa e velha ideia distorcida sobre o Brasil. Realmente, qualidade de som não é algo que se pode exigir de um disco gravado no meio da floresta, enquanto o músico salta de cipó em cipó para fugir de um jacaré faminto e é picado por mosquitos transmissores da malária.