sexta-feira, 9 de julho de 2010

Dossiê Brooklyn 2: Dirty Projectors


Ano passado, quando lançou o disco Bitte Orca, o Dirty Projectors deixou todo mundo passado. Ao lado de Merriweather Post Pavilion, do Animal Collective, e Veckatimest, do Grizzly Bear, foi um dos melhores álbuns de 2009 e uma das razões de existir do Dossiê Brooklyn.

Agora no fim de junho, a banda lançou um EP em parceria com a Bjork, ligado a uma campanha para salvar as baleias (o site, em que dá pra baixar o disco é http://www.mountwittenbergorca.com/). Nas sete faixas do EP, o Dirty Projectors consegue um resultado ainda melhor do que o de Bitte Orca em aliar ousadia e delicadeza e beleza e esquisitice. Apesar de ter baixo, bateria e guitarra/violão, o Dirty Projectors usa muito a voz como instrumento de base - e, para isso, as três vocalistas muitas vezes utilizam timbres estranhos e, podemos até dizer, feios. Mas essa possível feiúra se dilui na beleza das melodias, na delicadeza dos arranjos. E o resultado dessa mistura é uma música que não chega a ser etérea ou onírica. É música terrena mesmo, mas que passeia por paisagens incomuns e estranhamente belas.

A primeira faixa do EP Mount Wittenberg Orca (observação inútil: o DP deve ser a única banda do mundo que já usou a balavra "orca" no título de dois discos) tem um clima "canto de baleias" que pode ser um pouco sacal, mas que faz muito sentido como introdução de um disco feito para salvar o cetáceo. E, embora haja algumas letras cujo eu-lírico é uma baleia, a coisa passa longe de "We are the orcas/ save the orcas/ let's make a better orca place". Não, nada de demagogia sentimentalista. Apenas um ótimo disco voltado para uma igualmente ótima causa.

Minhas duas faixas favoritas são When the world comes to an end e No embrace, ambas cantadas por David Longstreth, criador do DP e compositor de todas as músicas do grupo, além de guitarrista e vocalista.



A New York Magazine publicou há um tempo um artigo bem legal sobre a banda e o por quê do Brooklyn ter se tornado um celeiro de bandas boas - e não é nada na água, como eu supunha....

domingo, 4 de julho de 2010

A cura do pastiche


Desde o ano passado, o genial Beck está levando a cabo um projeto insano chamado Record Club. Ele junta uns colegas e, em um dia, regrava algum disco clássico (ou "clássico"). A cada semana, ele disponibiliza em seu site um vídeo com uma faixa. Tudo começou com The Velvet Underground & Nico (o cara tem BOLAS, vamos combinar) e o último da lista foi Kick, do INXS - e não é que Beck conseguiu tornar inteligentes e empolgantes as músicas de uma das bandas mais insossas da música pop? A balada breguinha Never Tear Us Apart ficou linda de morrer, apesar dos versos melecados continuarem os mesmos.

Mas eis que o moço resolveu chutar o balde: chamou Thurston Moore, Tortoise e diversos músicos de estúdio para regravar (tremei) Live at Acropolis, do Yanni (!!!!!). Mesmo que não se lembre do nome, você já deve ter visto esse show pelo menos de relance quando zapeava a TV na época do Natal - embora não seja um show natalino, as emissoras ganham um ar épico nessa época do ano. Enfim... Esse show, gravado na Acrópole, em Atenas, é a definição de kitsch: pretende ser grandioso, mas é apenas cafona; pretende ser erudito, mas é tão vulgar quanto uma Surra de Bunda. Zeus deve ser um camarada bem misericordioso, do contrário teria lançado um raio bem na testa de Yanni, enquanto este tocava melodias baratas fazendo cara solene e batendo cabelo. Isso sem falar no bigode INDECENTE. Um clássico do mau gosto dos anos 90.

Mas Beck, que é um cara de coragem, resolveu encarar a besta-fera. A primeira faixa, Santorini, já está disponível e é de cair o queixo. Ouça e veja a original e a de Beck/Thurston - sim, eles encontraram a cura do pastiche:




Record Club: Yanni "Santorini" from Beck Hansen on Vimeo.

Observação: este blog acabou de completar dois aninhos - e eu, mãe desnaturada, nem dei uma festinha. Mas o 100º post se aproxima e aí vai rolar uma playlist comemorativa. Até!


.