terça-feira, 19 de junho de 2012

O remix do cover

Primeiro o duo seminal de punk/no wave Suicide compôs essa espécie de canção de ninar on metanfetamina:



Aí The Thing (trio do saxofonista Mats Gustafsson) e Neneh Cherry fizeram um cover da música para seu disco recém-lançado (e fodido):



Aí o Four Tet (one man project do londrino Kieran Hebden) fez um remix do cover:



Agora só falta alguém usar o remix do cover em um mashup. Duvida?

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domingo, 17 de junho de 2012

Sax barítono, um caso de amor

Algumas razões pelas quais estou apaixonada por esse instrumento grandalhão:

The Thing (ou qualquer outra banda/projeto do Mats Gustafsson)



Zu



Ken Vandermark & Yakuza



Colin Stetson & Esmerine



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sexta-feira, 15 de junho de 2012

Mestre e aprendiz


Jonny Greenwood é um cara foda. Além de ser o cérebro por trás de boa parte das esquisitices maravilhosas do Radiohead, ele tem um trabalho super interessante com trilha sonora. Suas incursões pela música orquestral renderam um disco maravilhoso em colaboração com o compositor polonês Krysztof Penderecki, lançado em março. O álbum, gravado ao vivo, consiste em duas peças antológicas de Penderecki (Threnody for the victims of Hiroshima e Polymorphia) seguidas por peças que Greenwood compôs inspirado por elas, e usando a mesma formação instrumental das originais - uma porrada de instrumentos de corda.

Threnody for the victims of Hiroshima

Threnody foi lançada em 1960, com o título 8'37", e se tratava de uma exploração de clusters, massas sonoras e microtons construída sobre esquemas malucos de inversão e espelhamento. Quando ouviu a peça ser executada pela primeira vez, Penderecki percebeu que havia ali um elemento dramático forte e resolveu rebatizá-la como Threnody for the victims of Hiroshima (algo como Lamento para as vítimas de Hiroshima). É interessante saber que o nome foi dado posteriormente, pois eu consigo ouvir vários sons de sirene ao longo da peça.

A composição de Greenwood, intitulada Popcorn Superhet Receiver (que está na trilha sonora de Sangue Negro), utiliza algumas técnicas de Threnody (cluster, glissandi), mas é bem mais melodiosa (o começo do primeiro movimento tem muito mais de lamento do que a própria Threnody). Resumindo, é um trabalho de inspiração, não de derivação, e fica bem difícil traçar paralelos entre as duas obras sem conhecer o processo de criação de Popcor Superhet Receiver.

Polymorphia

Pouco tempo depois de Threnody ser registrada em disco, Penderecki resolveu fazer uma experiência na clínica psiquiátrica onde trabalhava como voluntário. Colocou a música para tocar para alguns pacientes enquanto os submetia a um eletroencefalograma. As linhas do eletro serviram como base para a criação da peça Polymorphia - aqui vale lembrar que o compositor já vinha trabalhando com notações musicais fora do convencional. Polymorphia também lida com a questão de timbres e de possibilidades sonoras dos instrumentos de cordas, e possui forma ABA: na sessão A, os instrumentos são tocados com arco; na B, de forma percussiva. A peça encerra com um acorde de Dó Maior.

É esse acorde que Jonny Greenwood usa como base para suas 48 Responses to Polymorphia (que, aliás, são apenas 9 faixas). No primeiro movimento, o acorde gera uma melodia lamuriosa que vai aos poucos se dissolvendo em um emaranhado sonoro. Esse processo aparece em quase todas as faixas, especialmente em Three Oak Leaves, na qual o momento de caos é quase ensurdecedor. Foi para essa faixa que Greenwood usou um processo parecido com o do eletroencefalograma, utilizando os desenhos formados pelos sulcos de folhas de carvalho como guias para a notação musical.

O Guardian publicou uma matéria bem interessante sobre o disco, com entrevistas com Penderecki e Greenwood. Também achei textos interessantes sobre Threnody e Polymorphia. Boas leituras!

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sexta-feira, 1 de junho de 2012

Valtari, o disco novo do Sigur Rós


Nunca dei muita bola pro Sigur Rós (quando eu tinha uns 18 anos, uma amiga me mostrou umas músicas, achei um pé no saco e fiquei com essa impressão gravada), mas outro dia vi que saiu o disco novo, resolvi ouvir e encontrei ali uma pepita sonora, bela e delicada sem ser fofinha.

Assim como Radiohead e Björk, o grande trunfo do grupo islandês está no trabalho com timbres e no fato de levar esse cuidado com a essência do som para o universo pop - se bem que o Sigur Rós vai um pouco além dos dois citados em termos de forma, já que lida tanto com canções quanto com faixas instrumentais de veia minimalista (entendendo minimalista como música construída a partir da repetição de ideias musicais simples e não pela economia de elementos).

Há uma diversidade enorme de timbres em Valtari, e parte deles não são identificáveis ("isso é uma guitarra? um instrumento de arco? um som sintetizado?"), o que faz com que a atenção do ouvinte não se concentre na técnica (ou falta dela) do instrumentista e sim nas qualidades do som em si.



Na segunda faixa, Ekki múkk, a impressão é de que estamos ouvindo uma fita ou um LP antigo, devido ao efeito de "envelhecimento artificial" que coloca algumas sujeirinhas no som (o que, aliás, se relaciona com a capa do disco), e uma gravação aparentemente caseira de piano é a base de Varúo. Ambos os efeitos trazem uma sensação de nostalgia, a ideia de evocação de memórias, evocação de imagens. O fato de não dar para entender patavina das letras, cantadas em islandês, colabora para esse clima de sugestão em vez de afirmação.

Outro efeito sonoro interessante é a forma como a bateria que entra aos 3:55 de Varúo cresce em intensidade: a impressão é de que não foi o volume que aumentou e sim o instrumento que foi se aproximando do microfone até chegar tão perto que o som se distorce e se emaranha em uma massa sonora que é o clímax da música.

Nesse equilíbrio entre o pop e o experimental, é natural que às vezes a música penda para um dos lados da balança. Por sorte, os deslizes também são bem dosados: se o refrão grandioso de Rembihnútur resvala na pieguice, a instrumental Kvistur, construída a partir de drones e ruídos, bem que poderia estar no disco novo do KTL.



Quem quiser ouvir Valtari, dá para conseguir o disco aqui.

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