quinta-feira, 25 de junho de 2009

Clássicos do dia 7: My Bloody Valentine - Loveless



Música gasosa

Além do stress, da preguiça e dos problemas tecnológicos, demorei (muito!) para fazer essa resenha porque minha opinião sobre o disco sofreu constantes mutações conforme fui ouvindo e reouvindo. Como não pretendo fazer a crítica definitiva de nenhuma obra, apenas expor meu ponto de vista (fundamentado, por favor), vou dar uma de umbiguista e narrar minhas diversas reações a Loveless, do My Bloody Valentine. A partir dessa experiência pessoal, espero chegar a conclusões que não digam respeito somente a mim mesma. A explicação tá confusa, então vamos aos fatos.

A primeira vez que ouvi My Bloody Valentine, em 2006, fiquei passada. Estava assistindo à MTV de madrugada, quando passou o clipe de “Only Shallow”. A confusão sonora provocada pelas camadas de guitarras extremamente distorcidas, a voz sussurrada de Bilinda Butcher, o clima melancólico... corri para o Kazzaa (afinal, era 2006 e eu sou meio lerda com tecnologia...) e baixei mais algumas canções do grupo. Quando resolvi fazer a resenha de Loveless no Clássicos do dia 7, conhecia apenas algumas músicas do disco e sabia da importância dele para o tal rock alternativo/experimental/indie. Baixei o álbum pelo Torrent e fui ouvir. E aí rolou uma decepção.

Em vez de música elaborada em diversas camadas, ouvi apenas duas guitarras com toneladas de overdrive executando acordes completamente usuais (powerchords talvez), uma bateria sem nada de especial e baixo idem. As tais camadas não eram camadas reais e sim um efeito provocado pelo excesso de distorção nas guitarras. Era um truque, portanto. O áudio extremamente abafado e os finais abruptos das canções também me incomodaram.

Mas ainda assim elas continham uma beleza melancólica que me atraía. Mesmo sendo um truque, ainda dava vontade de fechar os olhos e se deixar levar. E então fechei os olhos e ouvi o disco novamente. Percebi um teclado escondido aqui, alguns coros ali, uma guitarra ruidosa acolá (ruidosa não no sentido de distorção mas no de barulho sonicyouthiano). As camadas existiam, enfim. O My Bloody Valentine pode não ser genial como Radiohead, mas também não é uma farsa elevada ao hype por algum crítico incauto.

O áudio abafado e comprimido e a ausência de dinâmica também deixaram de parecer um erro de mixagem/masterização. Passei a compreender esses “defeitos” como propositais, como ferramentas utilizadas para aumentar a confusão sonora. Esse imbroglio instrumental acompanhado de letras pronunciadas em um inglês ininteligível por uma voz suave que parece cochichar em vez de cantar tornam Loveless um conjunto de onze músicas que podem a qualquer momento se desmilinguir, derreter, virar gás. Matéria amorfa que envolve o corpo do ouvinte despertando uma vontade irresistível de fechar os olhos e balbuciar aqueles versos criptografados ou de simplesmente dançar cabisbaixo – talvez venha daí o nome shoegazer, rótulo que os críticos de música colocaram no som do grupo.

Destaco as faixas “Only Shallow”, que abre muito bem o disco e não por acaso foi escolhida para virar clipe, “I Only Said”, com a frase de sintetizador (ou seria voz?) que surge como uma boia em meio ao mar revolto, e a doce “Blown a Wish”.

Dá pra baixar em FLAC aqui.

Um comentário:

Anônimo disse...

bom comeco