Kevin Drumm, prolífico como é de costume, já começou sua série de lançamentos de 2013 com o disco
Tannenbaum. A primeira das oito faixas do álbum,
Night Side, tem nada menos que UMA HORA, UM MINUTO E UM SEGUNDO de duração e é uma das coisas mais radicais feitas com drone que eu já ouvi: as mudanças de timbre, altura e dinâmica são tão sutis que a impressão é que, tirando um momento ou outro, nada acontece na música. Isso me levou a duas questões:
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o esgotamento do drone: a pedra foi cantada por Sávio de Queiroz em sua
lista de fim de ano para o excelente blog Matéria e eu, com uma pontada de infelicidade, tendo a concordar. Por ser uma maneira de fazer música baseada na imobilidade, vai chegar um momento (e, ouvindo
Night Side, parece que ele está bem próximo), que a coisa vai parar de vez. No lugar de uma música que desafia o ouvinte a encontrar um mundo rico de sons onde aparentemente só há uma repetição indefinida de umas poucas notas, teremos uma música que não tem nada a oferecer além da repetição indefinida de umas poucas notas. O desafio passará, então, a ser uma mera prova de resistência para o ouvinte. Um caminho mais inteligente parece ser o de Stephen O'Malley, que em seus diversos projetos como Sunn O))), KTL e Aethenor, usa o drone como estrutura da música, sobre o qual é possível colocar linhas de sopro, vocal, orquestração etc.
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o tempo da arte: para mim, a principal função da música enquanto arte é tirar o ouvinte da vida cotidiana e levá-lo a um mundo de pura contemplação, para uma atividade totalmente improdutiva que consegue escapar da lógica do consumo que perpassa todos os aspectos da vida atual. É preciso que o ouvinte entregue seu tempo e sua atenção para o artista, que lhe dará, em troca, a experiência. Até aí, tudo muito lindo. Acontece que o dia tem um número limitado de horas, os anos tem um número limitado de dias e a vida tem um número limitado de anos. Portanto, quanto de tempo e de atenção (levando em conta que, para ter a experiência, é preciso se focar totalmente na obra - não dá para estar em um concerto e acessando o facebook pelo celular ao mesmo tempo) um artista pode exigir do seu público? Qual o limite a partir do qual essa transação passa a ser injusta para uma das partes?
E então lembro que há mais sete faixas de
Tannenbaum pedindo para serem ouvidas - e, dando play, sei o que vou perder, mas não sei o que vou ganhar.