sexta-feira, 13 de abril de 2012

Thurston Moore: não é só rock'n'roll


Quando Thurston Moore lançou o disco-solo Demolished Thoughts, no ano passado, duas coisas me chamaram a atenção: a ausência de eletricidade e a ausência de ruído. O guitarrista do Sonic Youth havia, afinal, lançado um álbum de canções - que lembrava bastante, aliás, o disco de fossa Sea Change, do Beck, que assinou a produção de Demolished Toughts.

Por isso, fui ontem ao Cine Joia preparada para ver um grande show (afinal, é o Thurston Moore, caralho!), mas sem barulho, experimentações e partes instrumentais longas. Cara, como eu estava errada! Apesar de Moore não ter chutado o balde de vez e feito um set de improvisação lóki (pedra que o Fabrício Vieira cantou no Twitter), as canções "calminhas" do disco ganharam partes instrumentais insanas, o violão foi substituído por guitarra em várias músicas e mesmo o instrumento acústico ganhou uma boa dose de distorção em alguns momentos. Enfim, uma lindeza.

Teve também um cover torto de Rolling Stones, It's Only Rock'n'Roll But I Like It - um tanto irônico, já que o trabalho do artista está longe e ser só rock'n'roll:



O show só não foi perfeito por causa de um detalhe: a plateia. É muito triste que um artista como Thurston Moore, que não está aí pra pagar de cool, atraia tanta gente sem educação, que prefere conversar sobre o que comeu no café-da-manhã (leite com pera, claro) a apreciar o puta show que estava rolando. Era impressionante como as pessoas não calavam a boca em um momento sequer e como não paravam de transitar pelo espaço pra fazer um social e comprar bebida (e distribuir empurrões para quem estava no caminho, já que "com licença" parece não fazer parte do vocabulário hipster). Se o público do John Zorn mereceu uma cuspida, o do Thurston Moore merecia um contêiner de saliva.

Enquanto eu estava lá levando uns cotovelaços e tentando ouvir a música por trás do blá blá blá, lembrei que provavelmente a melhor plateia de show de pista que eu vi recentemente foi a do show do Mayehm - sim, MAYHEM! Como a banda não atrai quem quer dar uma de descolado, como o local do show (o horroroso Carioca Club) não atrai quem quer dar uma de descolado e como "black metal" não é um rótulo que pode causar confusões (como acontece com free jazz, por exemplo), o pessoal que foi ver Attila e cia. estava lá pra ver Attila e cia.

O nome disso é RESPEITO. Simples assim.

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4 comentários:

Fabricio Vieira disse...

Falta de respeito total. O povo não está preocupado com o som, apenas com o hype do evento, botar fotinho no face, desfilar a roupa nova... Até Borbetomagus e Hijokaidan se houve em silêncio... Pena que o Keiji Haino ou o Bill Nace não vieram com o Thurston!!

Raquel Setz disse...

Com aquela galera que tava lá, ainda bem que esses caras não vieram! Aí é que ia ser um inferno mesmo - afinal, não ia ter nenhum refrão pra captar a atenção do pessoal durante uns 3 segundos. Enfim... essa mentalidade de balada está fodendo com vários shows.

Fabricio Vieira disse...

(Ps: nossa, soltei um "houve" no lugar de "ouve"...)

O pior é que essa gente não entende as críticas, não sabem nada de "respeito ao artista", tudo é balada, diversão. O valor sagrado da arte se perdeu: é como o Flo disse para vc: "você tem que ouvir música como no momento em que fosse rezar"...

Raquel Setz disse...

Uma feliz exceção foi o show do Secret Chiefs 3, no dia 19. Quando o produztor me falou que ia ser na comedoria, pensei "fuuuuu...". Mas deu tudo certo, pq o público estava lá por causa da música, não pra pagar de hype. Até tinha um ou outro comentário (o que é ok em show esquema pista), mas ninguém conversando sobre a unha encravada.