domingo, 8 de novembro de 2009

Memory of a very well paid festival


Nunca pensei que diria esta frase: "O show do Sonic Youth me decepcionou". Pois é, a apresentação da banda ontem no Planeta Terra não me empolgou. Os caras tocaram super bem, não teve mimimi de Brasil eu te amo e tal, mas aquele setlist... não consegui entender aquele setlist, sério.

Quando eles vieram pro Brasil em 2005 (e eu não pude ver porque tinha a maledeta prova da Fuvest no dia seguinte), eles fizeram um show super experimental, cheio de viagens noise-psicodélicas. Nesta vez, eles optaram por fazer algo mais centrado nas músicas da banda, sem grandes intervenções instrumentais improvisadas. Até aí, beleza, já que o que não falta no Sonic Youth é música foda.

Primeiro desapontamento: praticamente metade do show foi dedicado ao disco mais novo, The eternal, que, dentro da discografia incrível do Sonic Youth, é bem fraco. Mas era de se esperar, já que o álbum foi lançado nesse ano e tem que rolar aquela divulgação.

Segundo desapontamento: simplesmente não entendi qual o critério usado para escolher as demais músicas do show. Quando, logo no começo, Lee Ranaldo anunciou que iria tocar uma do Daydream Nation e mandou Hey Jony já vi que o negócio tava estranho. Porra, DAYDREAM NATION. Por que não tocar Teenage Riot ou ao menos Silver Rocket?? Bom, a estranheza do set list continuou: nenhumazinha do Dirty ou do Goo (o que não fez o menor sentido, já que o disco novo tem muito a ver com esses dois álbuns - apesar de não chegar na sola do pé destes) e Stereo Sanctity do Sister (por que não Schizophrenia, meo deos??)

Terceiro desapontamento: o show foi ridiculamente curto, teve só uma hora e vinte de duração, e nem teve bis - se bem que isso não é culpa dos caras e sim da organização do evento, que não deu mais tempo de show pra eles.

Mas nem tudo foi tristeza. Primeiro porque era Sonic Youth, e mesmo as músicas fracas do SY são fodas (ou ao menos muito superiores à produção de 90% das outras bandas de rock alternativo), a execução das músicas foi perfeita e alguns momentos merecem destaque: a energia punk de 'Cross the Breeze e a escolha de fechar o show com Death Valley 69, da fase mais no wave do grupo.



Já que o Sonic Youth não foi lá essas coisas, eu pensei: "Iggy and the Stooges não tem muito como dar errado". E assim que Iggy Pop e seus comparsas subiram ao palco realmente parecia que não tinha como aquele show ser ruim: já chegaram mandando Raw Power, seguida de Kill City, Gimme danger e Search and Destroy (não lembro se exatamente nessa ordem). Mas aí tio Pop decidiu que queria um pouco de calor humano e convidou algumas pessoas para subirem ao palco. "Just a few guys", ele disse. Em dois minutos o palco estava tomado por dezenas de fãs enlouquecidos. Receita perfeita para dar merda. Felizmente, não aconteceu nada desastroso tipo o palco cair ou pessoas serem pisoteadas, mas vi algumas cenas realmente tristes. Dois gorilas da segurança ficaram rodeando o Iggy Pop, impedindo da maneira mais truculenta possível que os fãs se aproximassem dele (e ele louco pra ir pro povão, tipo o Lula quando foi empossado em 2003). Nessas, o próprio Iggy Pop acabou levando uns safanões. Mas mesmo assim um palhaço conseguiu apertar o mamilo dele. Bom, terminou a música (que eu não sei qual era) e as pessoas foram gentilmente convidadas a rapar fora do palco. Nem precisa dizer que demorou uns cinco munutos pra todo mundo sair. Enquanto isso, Steve Mackay ficava fazend0 um solo de saxofone. E aí eu vi a cena mais bizarra ever: tinha um fã cabeludo que estava querendo um approach com o Iggy Pop. Os seguranças deitaram o cara no chão, mas ele conseguiu se desvencilhar e correu em direção a seu ídolo. Adivinha o que os seguranças fizeram? Puxaram o cara pelo cabelo. Eu, que já fui a trocentos shows de metal na minha adolescência nunca tinha visto nada remotamente parecido com isso.

Bom, o povo saiu do palco e a banda seguiu com seus clássicos, fechando com a incrível I wanna be your dog, dedicada ao falecido guitarrista Ron Asheton. Foi lindo ver Iggy Pop, um senhor de seus 60 anos com corpinho de 150, de quatro arfando como um cão excitado (e não, não tô sendo sarcástica, achei foda mesmo - punk puro). A parte musical do show estava irretocável até, que, no bis, Iggy Pop decidiu tocar The Passenger. Não sei se os Stooges não estão acostumados a tocar essa música, mas o fato é que cada um parecia estar em um andamento diferente, o baterista fez uma levada tão dura quanto tambor de banda de fanfarra e o saxofonista parecia não saber em que tom estava a música. O horror, o horror. Lust for life, última do show, foi executada com um pouco mais de dignidade, mas faltou groove, aquela pegada que põe todo mundo pra dançar. Iggy Pop deixou o palco com a bunda (e outras coisas mais) completamente de fora (ele passou o show todo com a calça no meio do traseiro, deixando o rego à mostra) e eu fui para casa bem menos realizada do que esperava.

Acho que depois do Radiohead em março, vai ser difícil sair de um show tão satisfeita.

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