sexta-feira, 15 de junho de 2012

Mestre e aprendiz


Jonny Greenwood é um cara foda. Além de ser o cérebro por trás de boa parte das esquisitices maravilhosas do Radiohead, ele tem um trabalho super interessante com trilha sonora. Suas incursões pela música orquestral renderam um disco maravilhoso em colaboração com o compositor polonês Krysztof Penderecki, lançado em março. O álbum, gravado ao vivo, consiste em duas peças antológicas de Penderecki (Threnody for the victims of Hiroshima e Polymorphia) seguidas por peças que Greenwood compôs inspirado por elas, e usando a mesma formação instrumental das originais - uma porrada de instrumentos de corda.

Threnody for the victims of Hiroshima

Threnody foi lançada em 1960, com o título 8'37", e se tratava de uma exploração de clusters, massas sonoras e microtons construída sobre esquemas malucos de inversão e espelhamento. Quando ouviu a peça ser executada pela primeira vez, Penderecki percebeu que havia ali um elemento dramático forte e resolveu rebatizá-la como Threnody for the victims of Hiroshima (algo como Lamento para as vítimas de Hiroshima). É interessante saber que o nome foi dado posteriormente, pois eu consigo ouvir vários sons de sirene ao longo da peça.

A composição de Greenwood, intitulada Popcorn Superhet Receiver (que está na trilha sonora de Sangue Negro), utiliza algumas técnicas de Threnody (cluster, glissandi), mas é bem mais melodiosa (o começo do primeiro movimento tem muito mais de lamento do que a própria Threnody). Resumindo, é um trabalho de inspiração, não de derivação, e fica bem difícil traçar paralelos entre as duas obras sem conhecer o processo de criação de Popcor Superhet Receiver.

Polymorphia

Pouco tempo depois de Threnody ser registrada em disco, Penderecki resolveu fazer uma experiência na clínica psiquiátrica onde trabalhava como voluntário. Colocou a música para tocar para alguns pacientes enquanto os submetia a um eletroencefalograma. As linhas do eletro serviram como base para a criação da peça Polymorphia - aqui vale lembrar que o compositor já vinha trabalhando com notações musicais fora do convencional. Polymorphia também lida com a questão de timbres e de possibilidades sonoras dos instrumentos de cordas, e possui forma ABA: na sessão A, os instrumentos são tocados com arco; na B, de forma percussiva. A peça encerra com um acorde de Dó Maior.

É esse acorde que Jonny Greenwood usa como base para suas 48 Responses to Polymorphia (que, aliás, são apenas 9 faixas). No primeiro movimento, o acorde gera uma melodia lamuriosa que vai aos poucos se dissolvendo em um emaranhado sonoro. Esse processo aparece em quase todas as faixas, especialmente em Three Oak Leaves, na qual o momento de caos é quase ensurdecedor. Foi para essa faixa que Greenwood usou um processo parecido com o do eletroencefalograma, utilizando os desenhos formados pelos sulcos de folhas de carvalho como guias para a notação musical.

O Guardian publicou uma matéria bem interessante sobre o disco, com entrevistas com Penderecki e Greenwood. Também achei textos interessantes sobre Threnody e Polymorphia. Boas leituras!

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