segunda-feira, 1 de junho de 2009

Algumas rápidas considerações sobre Babe, Terror

Baixei ontem o primeiro disco do Babe, Terror, one man band brasileira que causou furor na imprensa estrangeira com Nasa, Goodbye e, consequentemente, acabou causando furor na imprensa nacional também. Ainda não ouvi inteiro e diversas vezes, mas já me arrisco a fazer algumas considerações sobre o trabalho.

Babe, Terror tem como proposta fazer colagens vocais, ou seja: ele grava algumas frases musicais, murmúrios, sussurros e barulhos com a voz e depois monta o quebra-cabeça em um programa de edição sonora. A ideia é ótima e a intenção é das melhores, mas o resultado deixa muito a desejar. E o motivo é dos mais bobos: a tosquice da gravação e da edição, que faz com que uma proposta musical original e interessante se transforme em um desfile de chiados insuportáveis e de colagens tão mal feitas que dá para saber exatamente onde a faixa de áudio foi cortada e emendada.

Esse negócio de fazer música de qualquer jeito remete ao "Do it yourself" do punk, que com certeza foi uma revolução: "Se expresse mesmo que você não domine a técnica de tal forma de expressão". Frutos desse pensamento podem ser encontrados no funk produzido nos morros cariocas ou no tecnobrega paraense, só para citar exemplos brasileiros. Quando representa uma possibilidade de espaço para a criação, fazendo a massa passar de consumidora passiva a criadora de cultura, o tal DIY é muito bem vindo. O que não pode acontecer é isso servir de pretexto para a preguiça. E é isso o que acontece com Babe, Terror.

Vamos aos fatos: o homem por trás desse projeto é Cláudio Szynkier, repórter de música do site Trama Virtual. Não é um pé de chinelo da Rocinha ou da perifa de Belém, e sim um morador do bairro de Perdizes, reduto da classe média alta paulistana. Portanto, o único motivo para uma produção tão descuidada é preguiça pura e simples. E o único motivo para a imprensa estrangeira ter babado o ovo no trabalho do cara e não citar nenhuma vez a tosquice do áudio é a boa e velha ideia distorcida sobre o Brasil. Realmente, qualidade de som não é algo que se pode exigir de um disco gravado no meio da floresta, enquanto o músico salta de cipó em cipó para fugir de um jacaré faminto e é picado por mosquitos transmissores da malária.

4 comentários:

marcelo a. disse...

olha, não acredito que uma ótica tecnicista seja um bom ponto de partida para refletir um disco que o prórpio cara pede pra ser escutado nos fones... e acredite, eu acho que encontrei o que ele quer dizer assim. não me importei em saber se era colagem e se tava bonitinha.

R disse...

E ae Raquel saca meu set, coloquei 2 sets q eu fiz na net, tem alguns remixes meu dentro deles, dá uma sacada aqui um: http://www.4shared.com/file/103722793/723ef9eb/H-DJ_-_RASTATRONIC_-_1_DE_ABRIL.html

R disse...

aqui outro: http://www.4shared.com/file/108377636/9fd1e677/HDJ_-_W_IS_A_DJ_-_MIXSET_JUNHO.html

Raquel Setz disse...

Marcelo, não é uma ótica tecnicista. Só acho que a música dele, justamente por ser interessante, merecia um tratamento de áudio um pouco melhor.
Segundo que o grande barato É ser uma colagem, o problema é que ela está MUITO mal feita.
Existe uma tendência em achar bonito ser tosco: banda que toca com guitarra desafinada (não confundir com afinações diferentes, como faz o Sonic Youth), baterista sem ritmo, toneladas de Auto Tune na voz, etc.
Acredito que, quando a pessoa não tem condições financeiras de fazer uma boa produção, tudo certo - melhor se expressar de um jeito tosco do que não se expressar. Agora, se o cara tem um pouco de grana, por que não se empenhar em fazer um trabalho com cuidado e boa qualidade de som?
Acredito que a música do Babe, Terror não perderia a "aura" se fosse mais bem produzida. Pelo contrário: ressaltaria ainda mais as boas ideias que ficaram soterradas embaixo de chiados e colagens mal feitas.