quarta-feira, 29 de julho de 2009

440 Hz (volume 2): Versões

Sempre achei versão um negócio medonho, que remete à falta de talento para a música e ao excesso de talento para o negócio dos artistas medíocres da Jovem Guarda (Robertão e Erasmo não se incluem aí, ok?), ou às piores bandas do já horroroso rock brasileiro da década de 80 - lembram do Nenhum de Nós transformando Starman do Bowie em Astronauta de Mármore ou do Dinho Ouro Preto tentando dar uma de Iggy Pop em O Passageiro? Pois é ...

Poréééém, andei ouvindo uns discos que pessoas bacanas gravaram nos anos 80 e adivinha? Versões. Ney Matogrosso, no ótimo álbum Mato Grosso, fez a cagada de registrar uma versão de Johnny B. Good chamada Johnny Pirou, de autoria de Leo Jaime (!!!) e Tavinho Paes. Atenção para o refrão : Goool, gol do Mengão foi gooool. Eles tentaram fazer algo engraçado mas o resultado foi triste, muito triste.

Cida Moreyra também entrou nessa e gravou Furacão, versão que Miguel Paiva fez de Hurricane, do Dylan - ééé, aquela música enooorme que conta a história do boxeador que foi preso só porque era negro. Tirando um erro gramatical do refrão (Essa é a estória do Furacão/ que a justiça errou na decisão), a letra ficou bacana, bem fiel à original. Mas o resultado... sei lá... parece meio sem sentido passar essa música para o português, sendo que ela trata de um caso tipicamente estadunidense.

Mas o que me deixou passada mesmo foi que o poeta concretista Augusto de Campos fez uma versão de Little Wing, do Hendrix, chamada Asa Linda. Pelo título já dá pra perceber que deve se tratar de uma bomba. E é mesmo. Gravada por Tiago Araripe em Cabelos de Sansão, é um festival de bolas na trave - não sei se por causa da letra, que não é assim tão horrorosa, ou da interpretação meio travada de Araripe.

No entanto, tem uma que eu gosto... É Melro, versão de Blackbird que Tetê Espíndola gravou em Piraretã, sem primeiro álbum-solo. Apesar de só a hipótese de versão de uma música dos Beatles já me dar arrepios, essa saiu muito boa. A letra, vertida para o português por Carlos Rennó, é praticamente uma tradução da original. E o arranjo é lindo, assim como a interpretação da Tetê. Ficou uma coisa meio hipponga, meio regional. Sertanejo lisérgico, como diria Arrigo Barnabé.

Enfim, a moral da história é: se você não for Tetê Espíndola, nem pense em fazer versões.

ps.: ok, se você for Gilberto Gil e quiser passar Bob Marley pro português também tá liberado.

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