quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Joguinho das semelhanças

Eis que o blog (bem legal, por sinal) Música Para Seus Ouvidos lançou um pacote de resenhas de discos pesadões de 2010 e logo o primeiro texto é sobre o mais recente do Swans - e é sempre legal quando as pessoas lembram do Swans. Mas enquanto eu lia o texto, também comecei a me lembrar de algo: da resenha que eu fiz desse disco em agosto de 2010 pro Rraurl. Acontece que o texto do MPSO está estranhamente parecido com o meu. Aqui vão alguns trechinhos que não me deixam mentir (os do MPSO estão em azul e os do meu, em vermelho):

Antes do lançamento do novo álbum do Swans, o vocalista e líder Michael Gira fez questão de frisar que isto não significaria apenas uma reunião. Como tudo o que faz na vida, Gira, de cara feia, foi logo afiando a sua língua maldita: “não é um ato de nostalgia imbecil!”.

Após um hiato de 13 anos, a banda Swans voltou à ativa no começo de 2010 e agora está lançando um disco novo, My Father Will Guide Me Up a Rope to the Sky. [...]... o vocalista/guitarrista Michael Gira deixou bem claro no site da gravadora Young God Records que "ISSO NÃO É UMA REUNIÃO. Não é um ato de nostalgia imbecil. Não é repetir o passado. Após cinco álbuns do Angels of Light (banda que Gira formou depois do fim do Swans), eu senti necessidade de seguir EM FRENTE, em uma nova direção, e reavivar a idéia do Swans está me permitindo fazer isso".

Para quem não sabe, o Swans é daquelas bandas espetaculares que surgiu no começo da década de 1980, junto com Sonic Youth e afins, e ficou eternamente no submundo adorado por pessoas do submundo. Em seus primeiros anos de sons extremamente pesados e sombrios, com características mais ligadas ao metal, o grupo foi amaciando e modernizando a sua música, mas sem nunca sair do underground. As coisas ficaram mais bem trabalhadas, o que não significa que ficaram alegres e sorridentes.

O Swans foi formado na Nova York em 1982 e fez parte da segunda geração da no wave, mesma cena em que nasceu o Sonic Youth. Nesse primeiro momento, a música da banda era bem pesada (resvalando no metal), arrastada e repetitiva. A temática das letras girava em torno de morte, violência, crueldade. Imagine um disco do Slayer em rotação lenta: é mais ou menos isso. Em 1986, com a entrada da vocalista/tecladista Jarboe, o som do grupo começou a passar por um lento processo de mudança: o andamento deixou de ser tão lento, a repetição ad nauseum de uma mesma célula musical deu lugar a estruturas mais convencionais (baseadas em estrofes e refrões), o vocal ficou mais melodioso e as guitarras barulhentas abriram espaço para instrumentos acústicos. A agressividade do período inicial foi abrandada, sem que a banda se tornasse comercial ou perdesse seu caráter sombrio.

O bom de ver álbuns recentes de pessoas competentes e com pensamentos desnorteados de caos total é perceber a qualidade tecnológica aliada a sons realmente impactantes. My Father… é, acima de tudo, um álbum muito bem encaminhado e executado, desde as nuances de 9 minutos da faixa de abertura “No Words/No Thoughts” até a delicadeza imponente de “Little Mouth”. O que vale perceber é a mudança de espírito em cada faixa, que sai do mais puro silêncio inocente para tensões de graves repetitivos, algo muito claro na música “You Fucking People Make Me Sick”, que possui até participações leves de Devendra Banhart e da filha de 3 anos de Gira, para logo mais ser cortado por uma sinfonia assustadora.

O disco abre com "No words/no thoughts", uma pedrada de 9 minutos e meio em que uma sucessão de sinos, guitarras distorcidas e ruídos fantasmagóricos maravilham e massacram o ouvinte. Essa faixa possui duas características marcantes e que acompanham o álbum como um todo. A primeira delas é o uso da dinâmica. Em uma época de arquivos digitais em que o som é compactado e comprimido, é interessante ver uma banda trabalhar com diversas intensidades em uma mesma música. A passagem da serenidade para o caos pode se dar de maneira gradual (em crescendos) ou abrupta (se o Swans original trabalhava com uma constância que chegava a ser agonizante, agora há sempre uma surpresa no caminho). Já a passagem do caos para a serenidade é sempre instantânea, levando a uma sensação de alívio imediato, mas que não dura muito tempo. [...] No quesito susto, destaca-se "You Fucking People Make Me Sick". Com participação especial do bicho-grilo Devendra Banhart e da filha de três anos de Gira nos vocais, a faixa começa com um clima meio hippie e inocente. Até que, sem nenhum aviso prévio, as vozes e violões simplesmente somem, dando lugar a um bumbo grave e a um piano literalmente socado. Trompetes e trombones dissonantes e assustadores completam o filme de terror sonoro que se desenrola por dois minutos.

Agora o que mais me impressionou nas semelhanças não foi nem que ambos falamos que no começo o som do Swans era mais agressivo e ligado ao metal e com o passar dos anos isso foi mudando sem que a banda perdesse o caráter sombrio, ou que uma das características marcantes do novo disco é a mudança abrupta de climas, ou ambos termos destacado que a faixa de abertura tem 9 minutos, ou mesmo usado a palavra "assustador" para falar da faixa You Fucking People Make Me Sick. O que me deixou mais impressionada é que esses trechos que selecionei aparecem exatamente na mesma ordem nos dois textos: sim, os dois começam com Gira dizendo que não é uma reunião, seguem para a origem e história da banda e aí entram na descrição de faixas do disco novo.

Sei não, mas me parece que rolou uma inspiração aí - ou então esse foi um caso bizarro que coincidência como quando eu e uma amiga do colegial sonhamos na mesma noite que estávamos em Alto Paraíso com nossos pais e uma cobra aparecia. Vou botar o link pra esse post nos comentários de lá. Esperemos a resposta do autor.

ps: não tô acusando ninguém de nada e mesmo que tenha rolado uma chupinhação cara-dura não vou fazer escândalo - até porque sou a favor do copyleft e tal. Mas sei lá, talvez um agradecimentozinho fosse gentil. Ou me pagar uma cerveja da próxima vez.

2 comentários:

Felipe Queiroz disse...

Olá, Raquel.

Reproduzo aqui o que escrevi no meu próprio blog:

Raquel, existe sim semelhanças, mas não acho que sejam totalmente idênticas como você colocou, principalmente porque se tratam mais de textos informativos do que qualquer coisa. Li sim o seu texto para pegar informações, e posso garantir que a única coisa que extraí dele foi uma pequena parte da descrição no qual Gira diz que não é “nostalgia imbecil”, algo inclusive que não foi retirado com exclusividade por você.

Quando falamos sobre uma banda que há anos está inativa, é muito lógico que comecemos pela história da mesma, principalmente nesse caso, no qual pouquíssimas pessoas conhecem. Você pode observar que praticamente todos os meus textos possuem essa ordem: começam falando sobre a banda, e depois alguns comentários sobre as músicas.

Para colocar um exemplo, o texto da Pitchfork é parecidíssimo com o nosso também. Eles citam as mesmas coisas: um histórico da banda sobre as mudanças de sonoridade que se iniciou com metal, Gira dizendo que não é uma reunião qualquer, falam da faixa de 9 minutos (e quem não falaria?), falam da participção de Devendra e da filha (e quem não falaria?), dizem que o som da banda é assustador e cheio de mudanças de climas (e quem não falaria?).

Veja, por mais que falamos (eu, vc e a pitchfork) as mesmas coisas, o que é sinal que concordamos que o disco é bom, você pode perceber que muitos detalhes e a forma de escrever é diferente. Algumas informações e o meu desfecho, que você não citou, é bem diferente do seu, no qual tento terminar de forma cíclica ao que escrevi no começo. Textos meus já foram plagiados e sei que não é uma sensação agradável, e se você pensa que houve isso só posso afirmar que essa não foi a minha intenção.

Raquel Setz disse...

Sem dramas. É que me deu uma sensação de deja vu tão grande, especialmente pela ordem que as coisas aparecem.
Mas acredito em você e deve realmente ter rolado de termos tido as mesmas impressões - e é sempre bom encontrar gente falando bem do Swans. Aliás, é sempre bom encontrar gente falando do Swans e não do possível próximo disco do Strokes.