segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Percorso Ensemble - A música de Steve Reich

Acabei de voltar do concerto A música de Steve Reich, do Percorso Ensemble, grupo brasileiro de percussão dirigido por Ricardo Bologna. Foi um concerto curto, só duas peças de cerca de meia hora cada uma. A primeira foi Six Marimbas, de 1986, e a segunda e última, Sextet, de 1984.

Antes de começar o concerto propriamente dito, Bologna explicou um pouco da técnica minimalista do compositor usando trechos da primeira peça como exemplo. O diretor também contou que Reich não gostava de ver sua música classificada como "minimalista": preferia "repetitiva". Enquanto isso, dezenas de mosquitinhos do calor, que na verdade são cupins, faziam a festa. E foi um tal de músico dar baquetada em mosquito, mosquito invadir partituras... uma beleza. Sorte que, segundos antes de o concerto começar pra valer, alguém do público deu a idéia de diminuir a luz do palco e acender uma luz no fundo da platéia para desviar os bichinhos infernais dos pobres percussionistas.

Problemas com insetos resolvidos, começou Six Marimbas. Me lembrou bastante a sexta sinfonia pra guitarra do Glenn Branca, sobre a qual já fiz alguns comentários aqui. No meio de um bololô sonoro, nascem algumas melodias, que começam baixinhas, crescem e depois se esvaem, como uma paisagem na estrada quando se está viajando de carro. E então nossa atenção se volta para uma acentuação diferente, ou para a própria base quase hipnótica de tão repetitiva, e depois para uma nova mini-melodia que surge suavemente. Como o próprio Bologna comentou, no pequeno intervalo entre uma peça e outra, a música minimalista talvez seja a mais democrática para o ouvinte, pois cada um tem sua atenção voltada para algo diferente, cada um tem sua própria audição da peça. Diferente da música a que estamos acostumados, na qual nossa atenção é constantemente guiada e só com muito esforço conseguimos reparar em algo que não seja a melodia principal. Na música minimalista, o ouvinte não é levado pela mão.

A segunda peça, Sextet, foi um pouco mais difícil de absorver - pelo menos para mim. Mas isso não é nenhum defeito, muito pelo contrário: quanto mais desafiador, melhor. Sextet é linda, com variedade timbrística que inclui tambores, marimbas, pianos, sintetizadores, vibrafones, vibrafones tocados com arco de contrabaixo e até um gongo (tocado uma vez só), mas, enquanto Six Marimbas possui uma forma rigidíssima (os três movimentos são praticamente as mesmas linhas rítmicas e melódicas tocadas em tonalidades diferentes), Sextet é mais solta. São muitos elementos, muitas possibilidades, enfim, muita informação, que meu cérebro pouco acostumado com música cerebral não conseguiu processar direito.

Acho que preciso de mais algumas audições para conseguir achar o Wally...

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