terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

440 Hz: Saudades das guitarras dos anos 90...

Outro dia ouvi a música nova dos Smashing Pumpkins e, embora não seja nenhum primor, algo me chamou a atenção nela: tinha cara de começo dos anos 90, quando tocar power chords em guitarras distorcidas era a coisa mais legal do mundo. E aí me dei conta de que as bandas nascidas durante ou depois da "volta do rock" em 2001 (tipo Strokes, Franz Ferdinand, White Stripes, Interpol e seus milhares de sósias) quase não usam distorção. O que não é um problema. Mas que dá uma saudadezinha de um pouco mais de peso, isso dá, vai...

Para quem também sofre de nostalgia das guitarras dos anos 90, aqui vai uma seleçãozinha de pérolas da época. Tem...

... o próprio Smashing Pumpkins (quando, além de usar guitarras distorcidas, Billy Corgan compunha músicas totalmente arrasadoras):




... PJ Harvey (quando ela ainda tinha um pezão no tal "grunge"):



... Hole (quando a Courtney ainda não tinha mergulhado na jaca de vez):



... Nirvana (quando o Kurt, mmm... existia):



... Alice in Chains (quando o Laney Stanley, mmm... existia também - e ainda conseguia parar em pé):



... e Faith no More (quando a banda, enfim... existia):



Mas como no mundo da música pop nada se cria e tudo se relê, e se até o folk foi recentemente resgatado, é só uma questão de tempo para tocar power chords em guitarras distorcidas voltar a ser a coisa mais legal do mundo. Aguardo ansiosamente.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

"I'm Kim DEAL, from Sonic Youth..."

E falando em Sonic Youth e Beck, olha só esse vídeo do Beck e do Mike D, dos Beastie Boys, sendo entrevistados pelo Thurston Moore em um programa da MTV em 94. Simplesmente a definição de "nonsense":

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Conexão EUA - Egito - Saturno



Afrofuturismo é uma ideia tão bizarra quanto apaixonante: em linhas gerais, traça um paralelo entre a história negra americana e a ficção científica (os escravos trazidos da África para a América foram “abduzidos por alienígenas” e, na nova terra, tiveram seus corpos robotizados) e propõe que essa conexão seja usada como meio de expressão cultural.

O campo da arte em que o afrofuturismo mais se manifesta é a música, e o principal nome dessa corrente é Sun Ra, pianista que, acompanhado de sua Arkestra (que ao longo do tempo teve o nome mudado para Solar Arkestra, Astro Infinity Arkestra, Myth Science Arkestra, Intergalactic Arkestra, entre outros), injetou doses inimagináveis de psicodelia no free jazz durante os anos 60. Isso sem contar a fixação do cara pelo tempo dos faraós, o que adicionou mais um elemento (o Egito Antigo) à já complexa equação do afrofuturismo. Ah, e ele também dizia ter vindo de Saturno.

Mas não é preciso se interessar por OVNIs ou por Tutancamon para apreciar a música de Sun Ra. Além de ter levado a liberdade na forma e a ausência de temas ou bases harmônicas ao extremo, ele foi um dos primeiros (talvez o primeiro...) jazzistas a utilizar sintetizadores e efeitos de eco, criando sons que pareciam vir do espaço sideral. “Calling Planet Earth” mostra bem essas características musicais - e seu vídeo, cheio de imagens caleidoscópicas, também traduz bem as “doses inimagináveis de psicodelia” de que falei:



A maior dificuldade para penetrar no universo do músico, no entanto, não é sua estranheza e sim a quantidade de material que ele produziu: são mais de CEM álbuns. Assim, fica difícil esolher o que ouvir primeiro. Fui meio pela pesquisa, meio pelo chute e meio pelo que havia para baixar na net acabei ouvindo The Heliocentric Worlds of Sun Ra Vols. 1 & 2 e Space is the Place (clique para baixar). Porém, o que parece ser a cereja do bolo (Solar-Myth Approach Vols. 1 & 2) não consegui baixar de jeito nenhum...

The Heliocentric Worlds of Sun Ra Vols. 1 & 2 (1965)

Em The Heliocentric..., os sons sintéticos são muito pouco utilizados, mas mesmo assim Sun Ra promove uma viagem interessantíssima por meio de diálogos entre instrumentos. Apesar de sua Arkestra contar com quase quinze integrantes, quase nunca mais de três ou quatro instrumentos aparecem simultaneamente (a não ser em momentos de caos sonoro proposital). Na maioria das vezes, são apenas dois instrumentos, que constroem uma “conversa” sem nenhum acompanhamento harmônico ou tema para se basear melodicamente. Após um certo número de compassos, esses instrumentos dão lugar a outros, que constroem um novo diálogo, e assim a música caminha. Ao invés de fazer um trajeto de A a B (como acontece com uma sonata ou sinfonia) ou de dar círculos ao redor de A (à maneira de músicas de jazz que seguem o padrão tema - solos intermináveis – tema), Sun Ra propõe uma viagem sem itinerário definido, como o mochileiro que empacota suas coisas e pega o primeiro ônibus que passar – e que pode parar na cidade ao lado, na Índia ou em Marte.

Space is the Place (1972)

O álbum abre com “Space is the Place”, uma viagem de mais de 21 minutos em que a Arkestra é acompanhada pelos cantores da Space Ethnic Voices. Completamente diferente das faixas de The Heliocentric..., a forma da música é circular, com os vocalistas repetindo a frase “Space is the place” durante toda a música. Sobre essa espécie de mantra, acompanhado por uma percussão vigorosa, se revezam “solos” de instrumentos de sopro totalmente alucinados, barulhos sintetizados e até alguns berros, criando um contraste entre a constância hipnótica das vozes e a instabilidade caótica dos instrumentos. Depois desse tour de force, seguem as faixas “Images” e “Discipline”, que apresentam um jazz mais tradicional, com tema, harmonia, solos e tudo. Já “Sea of Sounds” é uma ode ao barulho (nem preciso dizer que amei...) e “Rocket Number Nine”, a última do disco, retoma “Space is the Place”: voltam as vozes (dessa vez repetindo a frase “Rocket number nine to go to the planet, to the planet Venus) e os mesmos barulhos de sintetizador. Vai embarcar?


E se quiser saber mais sobre Afrofuturismo, o site Rizoma traz diversos textos sobre o tema, inclusive de autoria de Mark Dery, crítico cultural criador da expressão "afrofuturismo". Recomendadíssimo.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Paulicéia avant-garde: Itamar Assumpção

Não poderia estrear essa seção falando de outra pessoa a não ser Itamar Assumpção, afinal, além de ele ser um dos maiores músicos que já nasceram nesta terra de Vera Cruz, ele é o tema do meu trabalho de conclusão de curso em jornalismo. Itamar era o típico gênio indomável: dono de um senso rítmico absurdo, ele criou uma linguagem musical completamente nova, na qual abundavam tempos quebrados, breques, canto falado e arranjos sempre em mutação; dono de uma personalidade um tanto quanto difícil, ele brigava com todo mundo, exigia dedicação total dos músicos que o acompanhavam, fazia ensaios diários de cerca de 5 horas de duração, e achava que quem não gostasse da música que ele fazia era burro. No fim da vida, quando já sabia que estava com câncer e que a probabilidade de cura era pequena, fez shows em que a Elke Maravilha subia ao palco fantasiada de morte gritando "Itamaaaaar, vou te pegaaaaaar". Além disso, começou a gravar como um louco, deixando diversos pedaços de músicas espalhados por aí. Esses registros ainda não tem previsão de lançamento, já que são músicas inacabadas e ninguém sabe direito como fazê-lo, mas um material contendo trechos dos últimos shows de Itamar vai ser lançado no segundo semestre pelo Itau Cultural.

Segue um show gravado em 1983 e transmitido pela TV Cultura. A apresentação fazia parte da turnê de lançamento do álbum Às próprias custas S/A. Atente para a precisão dos músicos (realmente, só com ensaios exaustivos seria possível atingir esse nível de apresentação), para a diferença entre os arranjos gravados em disco e os apresentados aqui ("Nega Música" foi virada de ponta cabeça), e, last but not least, para as caretas da Suzana Salles (adoooooro):









quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

SY & Beck

Para comemorar o record store day (dia das lojas de discos), que acontece dia 18 de abril, a Matador Records irá lançar um vinil compacto contendo Sonic Youth fazendo cover de "Pay no mind", do Beck, de um lado, e Beck fazendo "Green Light", do SY, do outro. Legal, né? Super. Só que a gravadora só irá prensar 2500 cópias desse disco e ele será vendido em lojinhas indie dos EUA, Europa e mais uns países do (mmm...) primeiro mundo. Ou seja: nada pra nóis aqui dibaixo do Equador. A não ser que, dentre esses 2500 privilegiados haja alguma alma boa que digitalize e disponibilize em MP3. Já comprei uma vela do meu tamanho pra fazer promessa...

E falando em Sonic Youth, a banda lança um disco novo (também pela Matador) no dia 9 de junho. Olha a capa do bichinho:



Um showzinho no Brasil em 2009 não iria nada mal... acho que vou comprar uma segunda vela.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Clássicos do dia 7: Sonic Youth - Confusion is sex



A confusão vem vindo...

Como dois guitarristas revolucionaram o modo de tocar o instrumento – e ninguém deu a menor bola

Ao contrário do que muitos imaginam, Confusion is Sex, lançado em 1983, não é o primeiro álbum do Sonic Youth. No ano anterior, o grupo havia lançado um disco auto-intitulado contendo cinco músicas, e este é considerado o álbum inaugural pela própria banda (e é um disco interessante, mas meio esquizofrênico. Rolam até uns batuques em algumas faixas). De qualquer forma, Confusion is Sex é o primeiro long-play e também o álbum no qual eles mostram a que vieram – quer dizer, as guitarras de Thurston Moore e Lee Ranaldo mostram a que vieram. Isso porque:

1) em 1983, o Sonic vivia num quiproquó de bateristas, e nenhum dos que entraram e saíram eram lá muito talentosos. A situação só melhoraria com a entrada do homem-metrônomo Steve Shelley em 85;

2) a banda ainda não tinha estabelecido o esquema “Thurston Moore cantando músicas que precisam de um vocal suave, e Kim Gordon cuidando daquelas que precisam ser interpretadas com raiva”;

3) outra sacada que só foi rolar anos depois é a de usar barulhos como base para melodias assobiáveis. Essa fusão entre noise e pop possibilitou que faixas de discos como Dirty e Goo possam tanto ser apreciadas pelo seu caráter de vanguarda como curtidas descontraidamente em pistas de clubinhos indie.

Portanto, o que o disco trouxe de novo ao rock foi a maneira de tocar, ou melhor, de utilizar guitarra. Depois que Jimmy Hendrix virou o mundo das seis cordas de ponta cabeça, surgiu uma leva de guitarristas incríveis que tornaram o fim dos anos 60 e toda a década de 70 a época de ouro do instrumento: Jimmy Page, Ritchie Blackmore, David Gilmour, Brian May, Eric Clapton, Jeff Beck, Carlos Santana... esses caras aperfeiçoaram a técnica, instituíram o solo nas canções de rock (eu também acho um saco, mas na época fazia sentido – e eles criavam uns puta solos...) e são a base para qualquer guitarrista de rock que queira tocar bem. Só que, apesar de eventuais maluqices psicodélicas, eles continuavam a tratar a guitarra basicamente como um instrumento melódico/harmônico – e, afinal de contas, a guitarra foi criada para ser um instrumento melódico/harmônico.

E aí, nos anos 80, Thurston Moore e Lee Ranaldo vieram causar a confusão. Não foram os primeiros, claro. Lááá em 1967, Lou Reed e Sterlin Morrison já faziam estrago com seis cordas no Velvet Underground, e no fim dos anos 70 veio a no wave e o caos geral. Mas ninguém explorou as possibilidades barulhísticas do instrumento como Thurston e Lee, que, na procura de sonoridades, criaram afinações bizarras, socaram cordas com baquetas, fizeram experiências com a microfonação provocada pelos amplificadores, entre outras estrepolias. Já ouvi e li por aí que a opção pelo barulho em vez de notas surgiu porque os instrumentos de que dispunham eram tão ruins que seria impossível tocá-los do modo convencional, ou que usar a guitarra como instrumento de percussão foi a solução encontrada para os shows que tiveram que fazer sem baterista. Du-vi-do. Essas histórias podem até ser engraçadinhas, mas, ei!, Thurston e Lee eram fãs de no wave e discípulos de Glenn Branca. Eles sabiam o que queriam.

Seria um trabalho insano e um tanto inútil tentar traduzir em palavras as sonoridades ouvidas em Confusion is Sex, e seria impossível tentar desvendar como eles chegaram a essas sonoridades. Para mim, a última faixa, chamada “Lee is free” é a mais emblemática. Dá até para enxergar Lee e Thurston em uma sala cheia de guitarras, explorando livremente os instrumentos. E é aí que está a chave: explorar, experimentar, descobrir. Confusion is Sex representa um marco, uma revolução na maneira de tocar guitarra. Mas o incrível é que parece que ninguém se tocou.

Explicando melhor: ao longo dos quase trinta anos de carreira, o Sonic Youth se tornou um dos nomes mais influentes do rock (dá para ouvir ecos de SY em 99% das bandas alternativas/experimentais), arrebanhou milhares (milhões?) de fãs pelo mundo e se tornou um ítem obrigatório na lista de preferências de quem quer parecer descolado, mas até hoje, Thurston Moore e Lee Ranaldo não são encarados como INSTRUMENTISTAS revolucionários. Talvez um dia, quando o mundo da guitarra deixar de ser dominado por atrações de circo como Malmsteen e Satriani, eles sejam devidamente reconhecidos. Até lá, muito “músico” por aí vai continuar dizendo “Sonic Youth é uma merda! Os caras nem sabem afinar a guitarra...”

Para baixar o disco, clique aqui (essa é a versão lançada em CD em 1995, que também traz as faixas do EP Kill Yr Idols)

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

kraut kraft

Quer ter uma aula rápida sobre krautrock e Kraftwerk?
Então leia este texto e esse outro.

E que coisa linda vai ser o Kraftwerk abrindo o show do Radiohead, hein? (ok, antes vai ter a volta do Los Hermanos - o mundo não é um lugar tão justo assim...)

Para ir aquecendo as máquinas, um vídeo da banda fazendo Man Machine (tirado do DVD ao vivo Minimum Maximum):

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Seções

Para me obrigar a postar com uma certa frequência e também para facilitar a organização, estou criando algumas seções fixas no blog:

Clássicos do dia 7: nos dias 7 de cada mês, uma resenha sobre um álbum ou vídeo clássico do noise/experimentalismo.

Paulicéia Avant-garde: porque não faz sentido eu passar o dia ouvindo Itamar Assumpção e Arrigo Barnabé e não escrever nada sobre eles aqui. Então, todo dia 15 trago um texto, dica ou link do youtube sobre esses caras de quem todo mundo já ouviu falar, mas que pouquíssimas pessoas já ouviram.

440 Hz: na última semana do mês, artistas que não se encaixam no esquema "Notas desafinadas + instrumentos estraçalhados + ruídos insuportáveis + silêncio absoluto", mas que valem a pena serem comentados.

Para encontrar as seções, basta procurar no marcador que acabei de habilitar (tá em ordem alfabética).

E o blog continua trazendo resenhas de shows, dicas aleatórias e o que mais der na telha.

Hasta la vista, babies.