segunda-feira, 30 de março de 2009

440 Hz: Especial Nirvana




Agora no começo de abril, a morte de Kurt Cobain completa 15 anos - a data exata não está aqui porque não se sabe exatamente o dia em que o líder do Nirvana explodiu os miolos: o corpo foi achado em 8 de abril pelo eletricista da casa, mas ele pode ter se matado no dia 4, ou 5, ou 6...
Historinhas sinistras à parte, o fato é que não dá para falar de rock nos anos 90 sem falar de Nirvana. Aliás, arrisco dizer que não dá para falar de rock sem ao menos citar o trio de Seattle.
Sou fã de Nirvana desde os 12 anos de idade e, embora meu gosto musical tenha sofrido várias alterações nesse tempo todo, o grupo sempre esteve no meu Top 5. Em homenagem ao meu querido anti-herói junkie que não gostava de escovar os dentes, montei uma seleção de diversos artistas e bandas interpretando músicas do Nirvana. Na última faixa, é o próprio Nirvana quem faz um cover (tosquíssimo) de outra banda que habita o topo da minha pirâmide.

É só baixar AQUI.

Faixas:
Hole - Pennyroyal Tea
Hole - You Know Your Right
Cássia Eller - Smells Like Teen Spirit
Tori Amos - Smells Like Teen Spirit
Patti Smith - Smells Like Teen Spirit
Unsung String Duo - Smells Like Teen Spirit
Trash Pour 4 - Lithium
Sinead O'Connor - All Apologies
Sonic Youth - Moist Vagina
Go Home Project - Main Bloom (mashup)
Nirvana - Here She Comes Now (Velvet Underground Cover)

ps indignado: fui procurar uma imagem de kurt cobain no Google Images e a primeira coisa que aparece é a foto de uma cabeça estourada. Como qualquer pessoa civilizada que aprendeu a controlar suas pulsões animalescas, nunca tive vontade de ver o cadáver do meu ídolo ou de qualquer outra pessoa que tenha morrido de forma brutal como ele. Sempre fugi de links para fotos desse tipo, mas hoje fui obrigada a olhar para essa imagem lastimável. Cadê o controle do Google nessas horas, hein?

segunda-feira, 16 de março de 2009

Paulicéia Avant-garde: O inimigo público número 1


Como todo movimento/cena cultural, a Vanguarda Paulistana não surgiu de uma hora para outra. E também como todo movimento/cena cultural, ela possui um marco inicial, espécie de ponto de referência fictício que serve para situa-la no espaço e no tempo. O ano: 1980. O lugar: São Paulo, claro. O evento: o lançamento de Clara Crocodilo, primeiro álbum do compositor, cantor e pianista Arrigo Barnabé.

Mas, para compreender esse disco, é preciso voltar um pouco no tempo. Mais exatamente para a primeira metade dos anos 1920, quando o compositor alemão Arnold Schoenberg criou o dodecafonismo. O sistema tonal já estava em crise e o próprio Schoenberg já havia composto diversas obras que podem ser consideradas atonais ou ao menos “nas fronteiras da tonalidade”, como é o caso de Pierrot Lunaire e Noite Transfigurada. No entanto, Schoenberg tinha muito respeito à tradição e não queria que o fazer musical se tornasse um “tocar qualquer nota”. Por isso, criou um método de composição rigorosíssimo chamado dodecafonismo, que consiste em dar a mesma importância aos doze sons da escala cromática e, assim, não permitir que nenhuma das notas se torne a tônica. Explicando melhor: é um sistema que abole as noções de tensão e repouso, que acaba com a ideia de tônica – subdominante – dominante. Explicando ainda melhor: é um jeito de tirar o chão do ouvinte.

Nos anos 1970, um jovem londrinense que vivia em Sampa começa a se interessar pelo método composicional desenvolvido por Schoenberg e tem a ideia de transporta-lo para a música popular, mais precisamente para o terreno da canção. Esse jovem, que possuia o curioso nome de Arrigo Barnabé, também era fã de histórias em quadrinhos e tinha um certo interesse pelo submundo da metrópole, assim como por programas de rádio sensacionalista. Costurou todas essas referências, adicionou toques de humor negro e, como uma espécie de doutor Frankenstein da música, criou seu monstro/obra-de-arte.

Arrigo já havia participado de festivais e shows coletivos em sua cidade natal, Londrina, mas foi em 1979 que mostrou sua criatura maldita em cadeia nacional ao participar do Festival Universitário da Canção produzido pela TV Cultura. Arrigo inscreveu duas músicas no concurso: “Infortúnio”, que não foi classificada para as finais, e “Diversões Eletrônicas”, que ganhou o primeiro lugar no festival, apesar de todas as vaias da plateia:

Obs: olha só quem é o baixista... aliás, os arranjos de base (bateria-baixo-guitarra) dessas duas músicas foram feitos por ele e por Paulo Barnabé, irmão de Arrigo e baterista da banda. Ah, caso não tenha dado para ver direito, o baixista é ITAMAR ASSUMPÇÃO.






Depois desse festival, a vocalista principal da banda, Neuza Pinheiro (a moça de flor no cabelo) teve um problema nas cordas vocais e não pode cantar por um bom tempo. Em seu lugar, entrou Tetê Espíndola, cantora sul-matogrossense de voz agudíssima e capacidade para fazer tudo o que quisesse com ela. Com essa formação, a banda participou de um festival na extinta TV Tupi, na qual mostrou a música “Sabor de Veneno” (nome que seria em seguida adotado pelo conjunto). Depois, foi a vez de Itamar sair e ir cuidar de seu clássico Beleléu. E então foi a hora de Arrigo entrar em estúdio e gravar Clara Crocodilo.

O disco tem como tema o bas-fond de São Paulo, universo habitado por prostitutas com calcinha que imita pele de leoparda (“Acapulco Drive-In”), bêbados e viciados em jogos de fliperama (“Diversões eletrônicas”), viúvas se descabelando no enterro do marido e, em seguida, indo ao Riviera se entregar para todo homem que encontrasse (“Infortúnio”). Mas a cereja do bolo é a história do office-boy que, sem grana para sair, passa a noite de sábado em casa assistindo TV e descobre que sua antiga namorada havia virado chacrete. Para reconquistá-la ele precisaria ter dinheiro, e isso é algo que seu emprego não vai lhe proporcionar. Então se lembra de um anúncio de jornal no qual uma empresa promete uma boa remuneração para quem topar testar seu novo produto. O office-boy vai até a empresa e lá recebe uma injeção que o transforma em um “terrível monstro mutante”: Clara Crocodilo.

São paulo, 31 de dezembro de 1999. Falta pouco, pouco, muito pouco mesmo para o ano 2000 e você, ouvinte incauto, que no aconchego de seu lar, rodeado de seus familiares, desafortunadamente colocou este disco na vitrola, você que, agora, aguarda ansiosamente o espocar da champanha e o retinir das taças, você, inimigo mortal da angústia e do desespero, esteja preparado... o pesadelo começou. Sim, eu sei, você vai dizer que é sua imaginação, que você andou lendo muito gibi ultimamente, mas então por que suas mãos tremeram, tremeram, tremeram tanto, quando você acendeu aquele cigarro... e por que você ficou tão pálido de repente? Será tudo isto fruto da sua imaginação? Não, meu amigo, vá ao banheiro agora, antes que seja tarde demais, porque neste mero disco que você comprou num sebo, esteve aprisionado por mais de 20 anos, o perigoso marginal, o delinqüente, o facínora, o inimigo público número 1: Clara Crocodilo...

É com esse texto, proferido por Arrigo em tom de programa policial de rádio popular, que se inicia a música “Clara Crocodilo”, a última faixa do álbum. Essa introdução metalinguística é simplesmente genial (e surreal), assim como o restante da música. Após dizer que não vai se entregar e que não vai morrer nas mãos de um tira, Clara desafia o ouvinte:

Ei, você que está me ouvindo, você acha que vai conseguir me agarrar? Pois então, tome... Já vi que você é perseverante. vamos ver se você segura esta... Meninas, vocês acham que eles querem mais? Querem sim! Você, que então é tão espertinho, vamos ver se você consegue me seguir neste labirinto.

Começa então, uma pequena fuga (forma musical), que desemboca no refrão: Clara Crocodilo fugiu, Clara Crocodilo escapuliu. É ou não é genial? Arrigo consegue transportar técnicas do universo erudito para a música popular sem parecer pedante. A chave é, sem dúvida, seu humor ácido. Mas não para por aí: como eu disse lá em cima, o dodecafonismo tira o chão do ouvinte. E a canção é o terreno das certezas: é música feita para ser assobiada. Como então, Arrigo conseguiu unir esses dois universos? Algumas frases musicais são repetidas diversas vezes. Dessa forma, apesar de serem frases bem “tortas”, elas acabam se tornando familiares aos ouvidos. E assim Arrigo criou peças dodecafônicas que podem ser assobiadas. É genial.

Dá pra baixar esse disco pelo Loronix. E pode ir sem culpa, porque ele está esgotado tanto em LP como em CD.

domingo, 8 de março de 2009

Clássicos do dia 7: Wendy Carlos - A Clockwork Orange



Observação: Se você resolver procurar esse álbum em sebos ou mesmo na internet, é bem provável que se depare com o nome WALTER Carlos. Acontece que Wendy nasceu Walter. A cirurgia de mudança de sexo aconteceu em 1972 (não sei se foi antes ou depois do lançamento de A Clockwork Orange), mas as gravadoras resolveram desconsiderar o fato de que seu pênis havia sido extirpado e continuaram lançando seus álbuns como Walter. Só em 1979, com Switched-On Brandenburg, ela foi finalmente aceita como Wendy. Aqui, no entanto, sempre irei me referir a ela como MULHER (o que já era muuuito antes da operação). Questões de gênero elucidadas, vamos ao que interessa: música.

A utilização de recursos eletrônicos para se fazer música é algo que remonta à virada do século 19 para o 20: o telharmonium foi inventado em 1897, o theremin, entre 1919-1920, e o Ondes Martenot, em 1928. A estes instrumentos precursores, se seguiram muitos outros, todos enormes e difíceis de serem manipulados. Um computador foi utilizado pela primeira vez para se criar música em torno de 1950-51. O nome da máquina era CSIRAC e dá uma olhada no tamanho do bichinho:




Olhando para esses instrumentos alienígenas não é de se estranhar que a música eletrônica tenha se mantido restrita às pesquisas acadêmicas e à vanguarda da vanguarda da vanguarda da música erudita. Para que ela pudesse sair da concha, seria preciso criar um instrumento mais simples, capaz de ser compreendido e executado por meros mortais. Um passo importantíssimo foi dado por Robert Moog, que, em 1965, apresentou ao mundo o sintetizador Moog:




Hoje, parece um trambolho complicadíssimo, mas foi uma revolução para a época, principalmente por possuir um teclado como interface. Em 1967, a engenheira de gravação Wendy (então Walter) se interessou pela novidade e encomendou alguns módulos. Entrou em contato com Robert Moog e sugeriu algumas mudanças no instrumento, o que Dr. Moog atendeu. No ano seguinte, Wendy lançou Switched-On Bach, álbum com peças de Johann Sebastian Bach executadas no sintetizador. Assim como o próprio Bach compôs O cravo bem-temperado para demonstrar que o temperamento e, em consequência, o sistema tonal, funcionavam, Wendy Carlos gravou Switched-On Bach para provar que a música eletrônica podia, enfim, sair do gueto. Para reforçar as possibilidades do sintetizador, ela lançou no ano seguinte o álbum Well Tempered Sinthesizer, uma coleção de peças barrocas também executadas ao Moog. A partir daí, já não havia mais o que provar, e Wendy ficou livre para criar A Clockwork Orange, trilha sonora do filme de Stanley Kubrick.

A história por trás desse disco é um desses casos impressionantes de sincronicidade: Wendy havia acabado de descobrir o vocoder e escolheu o quarto movimento na Nona Sinfonia de Beethoven para criar a primeira peça eletrônica vocal. Rachel Elkind, sua produtora, sugeriu que ela fizesse uma introdução, e assim Wendy compôs “Timesteps”. Ela ainda estava no meio do processo de criação dessa música quando um amigo lhe presenteou com o livro “A Laranja Mecânica”, de Anthony Burgess. Wendy ficou impressionada com a semelhança entre o universo descrito no livro e o clima de “Timesteps”. Pouco tempo depois, o mesmo amigo lhe mandou um recorte de jornal informando que Stanley Kubrick estava transformando o livro em longa-metragem. Quando as filmagens terminaram, Rachel Elkind enviou “Timesteps” e o quarto movimento da Nona Sinfonia para Kubrick. Quando ouviu a gravação, o cineasta pediu permissão para utilizar essas duas faixas em seu filme e chamou Wendy para fazer o restante da trilha sonora.

O álbum A Clockwork Orange abre justamente com “Timesteps” seguido pelo quarto movimento em versão abreviada - ao contrário de seus álbuns anteriores, nos quais Wendy seguiu à risca a partitura das peças executadas, aqui ela fez a ousadia/heresia de alterar o que foi escrito por Beethoven. As vozes robotizadas entoando o poema “Ode à Alegria” de Schiller criam um estranhamento muito parecido com aquele provocado pelas imagens de Kubrick: um misto de horror e beleza, de futuro sombrio e humor. Além de ser um trabalho impressionante por si só, a trilha composta por Wendy Carlos é fundamental para caracterizar Alex, um psicopata de gosto refinado e um tanto quanto infantil (o que o torna ainda mais assustador).

A abertura do filme, ao som de “Music from the titles of A Clockwork Orange”, composta sobre a “Música para o Funeral da Rainha Mary”, de Henry Purcell, é de gelar a espinha (desculpe a dublagem em francês, mas não achei essa cena no original no Youtube...):



Mas a melhor faixa do disco, na minha opinião, é “Country Lane”, música que descreve a cena em que dois ex-companheiros de Alex, agora policiais, quase o afogam (no entanto, ela não entrou no filme: a cena do afogamento se passa ao som de “Music from the titles of A Clockwork Orange”). “Country Lane” é, sem dúvida, a campeã no quesito “estranhamento”: mescla alguns compassos de “La Gazza Ladra”, de Rossini (que também aparece no disco em versão abreviada e executada ao sintetizador) com o tema medieval “Dies Irae” (ao vocoder), além de som de tempestade (sim, uma tempestade criada com sintetizador) e alguns compassos de “Singing in the Rain” (canção que tem importância cabal na película).

Enfim, uma trilha sonora tão genial e indispensável quanto o filme.

sábado, 7 de março de 2009

The Eternal - aperitivo

Quer ouvir trechos das faixas do álbum novo do SY? Dá uma passada no Trabalho Sujo.

domingo, 1 de março de 2009

Um banquinho, um oscilador de frequências...

Eis que, navegando pela rede, descubro que existe um lugar em São Paulo onde acontecem mensalmente apresentações de música eletroacústica: o Ibrasotope, espaço na Vila Nova Conceição fundado pelos músicos Henrique Iwao e Mario Del Nunzio (que também moram lá) em dezembro de 2007.
Pelo visto, as sessões deram certo, e o Ibrasotope também virou um selo, que, afirmando seu caráter de vanguarda, disponibiliza para download os dois álbuns com registros dos artistas que já passaram pela casa.

Links:
www.myspace.com/ibrasotope

www.ibrasotope.blogspot.com (os discos para baixar estão aqui)