segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Meredith Monk - Impermanência

Eu não conhecia Meredith Monk, mas me interessei pelo que li sobre ela nos jornais. Para não fazer a mesma cagada que fiz com o show da Laurie Anderson, corri para comprar meu ingresso para a apresentação de Monk no teatro Santa Cruz. Ainda bem, porque foram os 47 reais mais bem gastos da minha vida.

Meredith Monk nasceu aristicamente na vangarda novaiorquina dos anos 70, enveredou pelo budismo e hoje faz uma música que é um misto de experimentação e espiritualidade. Sua estética pode ser chamada de minimalista, repetitiva. Suas músicas/peças são como mantras (um tanto "vanguardeados", é claro). Não se sai de uma apresentação de Monk do mesmo jeito que se entrou - o que me faz pensar que, se não fosse o casal com DUAS crianças que não paravam quietas ao meu lado, eu teria saído do colégio Santa Cruz transmutada em monja tibetana.

E, falando em monjes tibetanos, Monk faz aquela coisa absurda com a voz que esses monjes também fazem: consegue emitir DUAS notas ao mesmo tempo. Só que os monjes vivem no meio do nada e passam o dia todo meditando e treinando peripécias vocais. E Monk vive em Nova York e passa o dia compondo, ensaiando, bolando coreografias, filmando - sim, ela é o que podemos chamar de artista multimídia.

Mas voltando à voz: Monk também é mestra em usar microtons, em mudar de timbre de um segundo para outro e de utilizar os mais diversos barulhos vocais - desde risadas, estaladas de língua até sons inclassificáveis. Seu Vocal Ensemble, formado por 4 cantores-dançarinos, também é impressionante. Mas não se trata de vistuosismo exibicionista: a técnica é usada a serviço da música, que é contida, minimalista.

Impermanência é uma das únicas obras de Monk que utiliza palavras, embora não o faça o tempo todo. E, mesmo nos momentos "literários", a palavra está lá mais pelo som do que pelo significado. Agora imagine uma música essencialmente vocal que consegue tocar o ouvinte sem possuir uma letra com sentido. Foi uma das pouquíssimas vezes que me senti próxima ao sublime.

Fui procurar no Youtube algum vídeo da apresentação e eis que me deparo com um documentário sobre Meredith Monk dirigido por Peter Greenaway. Lá vai:















Nenhum comentário: