quarta-feira, 15 de julho de 2009

Pauliceia Avant-Garde: Punk rock peculiar


Que os artistas da vanguarda paulistana não obtiveram o devido reconhecimento e espaço na mídia não é nenhuma grande revelação. Dentre os inúmeros talentos que ficaram em uma espécie de limbo (amados pela crítica, desconhecidos do público), um caso é particularmente intrigante: o de Paulo Barnabé. Multiinstrumentista, ele participou dos dois álbuns seminais do "movimento", Beleléu, Leléu, Eu, de Itamar Assumpção, e Clara Crocodilo, do irmão Arrigo Barnabé (e não foi só como instrumentista; Paulo também ajudou na criação de arranjos); além de ter criado um dos grupos mais intrigantes dos anos 80, a Patife Band.

Em 1985, a Patife lançou seu primeiro EP. Em 1987, veio o primeiro e, por muito tempo, único LP, Corredor Polonês. Desconhecido e impossível de se achar em lojas de disco, Corredor Polonês é daqueles álbuns que é preciso ouvir diversas vezes para crer. Porque misturar elementos de música erudita de vanguarda (frases atonais, ritmos quebrados) com a urgência e a energia do punk rock realmente não é para qualquer um - se alguém conhecer outra banda que faça isso, favor me avisar.

No meio do caminho ainda aparecem referências à música brasileira, ao jazz e ao rock progressivo. As letras tratam das neuroses típicas das grandes metrópoles, como em Pesadelo ("Você não consegue dormir sem beber/ já faz muito tempo que não") e em Tô tenso ("Tô tenso, tô tenso, tô tenso/ tô cansado/ propenso, propenso, propenso/ ao suicídio").

A faixa mais surpreendente, na minha opinião é Poema em linha reta, uma "parceria" da Patife com Fernando Pessoa. Imbuídos da nada mole tarefa de musicar os versos iniciais de um poema que não tem rimas e foi escrito em verso livre, os patifes se saíram absurdamente bem. Em vez de tentar encaixar o texto a fórceps na música, eles optaram por utilizar os versos de Pessoa como base para a estrutura da música e também para a interpretação. Criaram, assim, o complemento perfeito para os versos violentos do português.

O disco fecha com uma versão sertaneja (com acordeão e sotaque caipira) para Vida de Operário, do grupo de punk rock Excomungados - considerado, e com muita justiça, a pior banda do mundo.

Pra baixar Corredor Polonês, é só clicar aqui.
E para baixar a versão original de Vida de Operário, com os Excomungados, clique aqui.

Nenhum comentário: