terça-feira, 11 de maio de 2010

Leiturinhas

Dois textículos bem interessantes sobre música disponíveis na internet:

The wolf at our hills (Jan Swafford para a Slate Magazine): esse texto é uma resenha do livro How equal temperament ruined harmony (and why you should care), do professor Ross W. Duffin, mas vai muito além do compre ou não compre/leia ou não leia: é uma pequena aula sobre os sistemas de afinação ocidentais, desde a Renascença até os dias de hoje. E também é uma prova de que o mundo da música pode ser ao mesmo tempo fascinante, enlouquecedor e até um tanto fútil.

How black is black metal (Kevin Coogan): este também é uma resenha, só que do polêmico livro Lords of chaos, de Michael Moynihan e Didrik Sederlind, que conta a história da ainda mais polêmica cena black metal norueguesa do início dos anos 90. Kevin Coogan usa sua técnica de jornalista investigativo para destrinchar as ligações entre black metal, igreja de satã, organizações nazi-fascistas, Charles Manson, a cultuada banda de industrial Throbbing Gristle e o autor Michael Moynihan (que é assumidamente de extrema-direita). Ele aproveita para explicar a diferença entre fascismo/terrorismo cultural (praticado pelo Throbbing Gristle) e fascismo/terrorismo de fato (praticado por Moynihan, Varg Viekernes e todo esse pessoal bacaninha).
Observação: em alguns momentos do texto, Coogan ataca o comunismo, o que pode levar à ideia de que ele também é simpático ao ideal de extrema-direita. Dei uma pesquisada e descobri que ele lançou um livro (Dreamer of the day: Francis Parker Yoker and Postwar Fascist International) pela editora Autonomidia, especializada em obras de caráter anarquista. Portanto, pode ler sem medo que Coogan é um cara confiável.

Por fim, queria indicar o livro Rip it up and start again - Postpunk 1978-1984, do jornalista musical Simon Reynolds. Ainda estou no começo, mas só o prólogo já valeu os reais investidos: ao comparar o que veio antes do punk (como Frank Zappa, Brian Eno, krautrock e a santa trindade glam rock David Bowie/Lou Reed/Iggy Pop) com o que veio depois (no wave, industrial, Joy Division, PIL), ele chega à seguinte conclusão:

In hindsight, is punk rock that seems the historical aberration - a clear-the-decks return to basic rock'n'roll that ultimatelly turned out to be a brief blip in an otherwise unbroken continuum of art-rock spanning the seventies from start to finish.
[tradução livre: Em retrospecto, o punk rock é que parece ter sido a aberração histórica - um retorno ao rock básico que acabou sendo apenas uma pequena quebra no contínuo de art-rock que, não fosse o punk, teria acompanhado os anos 70 do começo ao fim]

Ou seja, Reynolds praticamente esvazia a importância musical do punk rock. A história de que o punk salvou o mundo do rock progressivo de grupos como Yes e Emerson, Lake & Palmer é uma falácia: já antes de 1976 (ano zero do punk rock) havia outras bandas/artistas fazendo coisas muito mais interessantes que o progressivo xarope e que o próprio punk. Moço corajoso esse Simon Reynolds...

Nenhum comentário: