sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Música instrumental brasileira não-coxinha

Certamente, a forma musical mais importante no Brasil é a canção (e aí não estão só Chico Buarque e Tom Jobim, mas também Tati Quebra-Barraco, Ratos de Porão, "Fugidinha com você" etc). Mas, de uns anos pra cá, está rolando um fenômeno bem legal de bandas jovens de música instrumental. E se ao ler a expressão "música instrumental" você já ficou com medo, imaginando uma legião de almofadinhas desfilando escalas mixopentahiperdóricas sobre a base de "Wave", CALMA. Porque essa nova geração da música instrumental não tem nada a ver com isso. Começa que as bandas não massacram clássicos da música brasileira que já foram massacrados 3865846 vezes antes e por isso hoje se tornaram insuportáveis (você consegue ouvir as quatro primeiras notas de "Wave" sem querer matar alguém? Eu não). E também não têm medo de distorção. E, o melhor de tudo, abandonaram a figura do solista virtuosi e apostam em uma linguagem em que o som da banda como um todo é mais importante que a exibição do umbigo de cada integrante. A seguir, algumas delas:

Hurtmold
Já falei dela aqui e é a veterana dessa geração. Perdeu uns pontos ao se tornar a banda base do Marcelo Camelo, mas ganhou todos os pontos do mundo quando alguns integrantes acompanharam Pharoah Sanders no show putaqueopariu que o mestre do free jazz fez em São Paulo no ano passado. O trabalho-solo do baterista/trompetista Maurício Takara também merece atenção.





A Banda de Joseph Tourton
Molecada do Recife que mostra que a competência juvenil pode ir alguns milhares de passos além da Mallu Magalhães. Ok, eles não têm 15 anos, mas também não passam muito dos 20. E fazem um som que passeia por guitarras noise, flautas bossa-nova e escaletas - sem nenhum "tchubaruba" no meio.



Macaco Bong
O som do Macaco Bong é mais calcado no rock, ainda que não tenha nada a ver com a forma estrofes-ponte-refrão. Entrevistei os caras ano passado (a matéria deve sair em breve na +Soma) e o guitarrista Bruno Kayapy disse uma das melhores frases que já ouvi de entrevistado: "Adoro Pat Metheny, mas eu considero esteticamente o Cannibal Corpse uma das melhores bandas".



Rá! E eles também curtem Nirvana!!! (acabei de descobrir esse vídeo, por isso a animação)



Satanique Samba Trio
Na minha humilde opinião o SST é o mais foda de todos. A banda tem uma proposta estética diferente das que citei anteriormente: enquanto as composições daquelas são (ou ao menos parecem ser) resultado de horas de jam session e correm fluidas, indo aos poucos de um clima x para um clima y, o Satanique Samba Trio trabalha com blocos sonoros que se alternam bem rápido e têm bastante influência da música nordestina. Resumindo: é tipo um John Zorn do cangaço. Fora que uma banda que batiza suas composições com títulos como "Lambada Post-Morten" e "Cabra da Peste Negra" ganharia meu eterno respeito mesmo se soasse como Maria Rita fazendo samba.


(ah, esqueci de dizer que o Satanique Samba Trio montou um trio elétrico e vem promovendo "micaretas do capeta" na capital federal. Precisa mais?)

Um comentário:

Salival disse...

Grandes bandas. A maioria conheci por causa desse texto. Concordo que o Satanique talvez seja realmente a melhor, mas todas as outras são ótimas!