segunda-feira, 7 de maio de 2012

Clássicos do dia 7: Sunn O))) - Monoliths & Dimensions



“Nessa escassez de ruídos, os primeiros sons que os homens foram capazes de tirar de um pedaço de madeira furado ou de uma corda esticada foram entorpecedores, algo novo e maravilhoso. Os povos primitivos atribuíam o som aos deuses. Era considerado sagrado e reservado para os sacerdotes, que o usavam para enriquecer seus rituais com mistério. Assim nasceu a ideia do som como algo em si mesmo, diferente e independente da vida. E daí resultou a música, um mundo fantástico sobreposto ao real, um mundo sagrado e inviolável” (Luigi Russolo no Manifesto A Arte dos Ruidos)

Ao reouvir o disco Monoliths & Dimensions (que mal tem três anos, mas já é um clássico para os fãs de música lenta e pesada), lembrei dessas palavras do futurista italiano. O Sunn O))) já abordava a música de maneira descolada da vida cotidiana (basta levar em conta a atmosfera altamente ritualizada dos shows, com muito gelo seco e capas de monge), mas nesse disco a coisa foi levada para um outro patamar.

Além das guitarras super distorcidas e do andamento ultra-lento que faz com que o ouvinte perca facilmente a noção da passagem do tempo, há a voz abissal de Attila Csihar entoando letras sobre túneis no céu e estrelas explodindo, e arranjos enriquecidos com trombones, cordas e coros. A sonoridade é grandiosa sem cair no kitsch do metal orquestral, e o clima quase fantasmagórico não dever ser confundido com música feita para dar medo ou com uma exploração sonora do lado sombrio do ser humano: trata-se aqui de um tipo de beleza e elevação a que não estamos acostumados.

Monoliths & Dimensions é uma catedral sonora esculpida em pedra bruta. Para ajudar nesse árduo trabalho, os guitarristas Stephen O’Malley e Greg Anderson contaram com diversas colaborações. Além do já citado Attila Csihar, destacam-se as participações do produtor Randall Dunn e do violista e arranjador Eyvind Kang. Como me disse o violinista Timb Harris (que também participou da gravação do disco), “Randal e Eyvind pegaram as ideias musicais do Sunn O))) e criaram uma supernova artística a partir daí”.

Também merece loas o trabalho feito pelo trombonista Julian Priester, especialmente na última faixa, a instrumental Alice, em homenagem a Alice Coltrane. Essa referência à artista que levou ao jazz a sonoridade e a carga espiritual da música indiana mostra que as influências de Stephen e Greg vão muito além de Earth e Melvins (sempre citados em entrevistas) e do black metal. Os últimos minutos da música, quando as guitarras distorcidas silenciam, é pura delicadeza: sobre uma base formada por sons de harpa, cordas e sopros, um tranquilo solo de trombone lentamente conduz o disco ao fim. É então hora de abrir os olhos e voltar ao mundo real – que parecerá, inevitavelmente, bem sem-graça.



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