Já faz alguns anos que me interesso por criar uma música que pode ser apreciada por seres sem nenhum conhecimento cultural, música que pode ser chamada de primordial, arquetípica ou ritual, no sentido de ritual como evolução do indivíduo através do tempo e do espaço sagrados. Música direcionada não ao intelecto, mas a todos os sentidos, música cuja única função seja a integração total dessas energias e forças sagradas que existem latentes dentro de todos nós (Zbigniew Karkowski)
Como o intuito deste blog não é desfiar conhecimento e
sim compartilhar as descobertas musicais que vou fazendo, me sinto à vontade
pra fazer um post sobre o artista de noise polonês Zbigniew Karkowski. Entrei
em contato com a obra dele há mais ou menos um mês e ouvi pouquíssima coisa
(sabe essa história de que na internet tudo está à distância de um clique? Então,
é furada), mas gostei muito desse tiquinho que ouvi e também fiquei bem
interessada pela abordagem que ele tem da música.
A história resumida é a seguinte: o cara estudou música
na universidade e lá percebeu que os compositores da tal música erudita
contemporânea criavam suas obras fazendo referências a obras de outros
compositores (seja para negar radicalmente o que fora feito antes, seja para
homenagear), criando uma situação em que o ouvinte só consegue apreciar e
entender determinada peça se conhecer todas as referências contidas ali – se você
imaginar que o compositor x faz referência a y, que sua vez se refere a z, que
por sua vez se refere a j, dá pra ter uma ideia da espiral de incompreensão que
se forma em torno de uma reles peça.
Por isso, Karkowski partiu para uma abordagem totalmente
anti-intelectual, uma música que não precisa passar pelo racional para ser
apreciada, que recupera o aspecto ritual (Karkowski chega a comparar sua música
ao vodu) e transcendental. Tudo isso ele explica no manifesto The Method isScience, The Aim is Religion, e também em entrevistas e palestras, como esta
aqui apresentada no Brasil:
Falando nisso, o polonês é fã do país e vive aparecendo aqui para fazer shows dos quais todo mundo sai surdo (o cara é famoso por queimar PAs) e para curtir noitadas regadas a caipirinha. Aqui tem um vídeo de uma apresentação dele em Florianópolis:
ZBIGNIEW KARKOWSKI at UDESC/FLORIANOPOLIS/BRAZIL from Peter Gossweiler on Vimeo.
Além de ter ideias foda e fazer música igualmente fodida, o cara ainda é um dos criadores da SoundNET, uma engenhoca de 121 metros quadrados ativada por sensores que é, segundo Karkowski, o maior instrumento musical do mundo:
Quer mais? Então clique aqui é baixe o disco Uexkull, um dos primeiros lançados pelo artista – e que estava na playlist que eu preparei pro Kevin Drumm.
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