sexta-feira, 24 de abril de 2009

440 Hz: Guerra (musical) nos Bálcãs


Nesse 440 Hz, quero dar a dica de um livro que estou lendo: Rádio Guerrilha - Rock e resistência em Belgrado, do jornalista inglês Matthew Collin. O livro conta a história da rádio B92, fundada em 1989 na capital da Sérvia (e, na época, da Iugoslavia) e que foi um dos poucos veículos de mídia que fizeram oposição ao governo de Slobodan Milosevic.

Apesar do tom anticomunista que toma conta do começo do livro (Collin parece enxergar o capitalismo como o salvador das pátrias da União Soviética que estava ruindo), ele é interessantíssimo: a partir da história de uma rádio quase-pirata, conta a História do desmembramento da Iugoslávia, da chegada dos nacionalistas sérvios ao poder e da limpeza étnica promovida por Milosevic e seus asseclas - um grupo que incluía burocratas do antigo partido comunista, hooligans e gângsters.

Uma das passagens mais interessantes do livro trata da relação da música com o governo de Milosevic durante a primeira metade dos anos 90. De um lado, havia o turbo-folk, estilo que misturava o que havia de mais brega no pop internacional com pequenos toques da música tradicional sérvia e ideologia nacionalista. Os artistas dessa vertente eram apoiados financeiramente pelo regime, com o qual mantinham laços estreitos: Ceca, vedete do turbo-folk, se casou com Arkan, ex-chefe de torcida de futebol, gângster e fundador de unidade paramilitar de limpeza étnica (gente boníssima...).

Em meio à guerra, ao genocídio e a uma economia em ruínas que chegou a registrar o inacreditável índice inflacionário de 313.563.558% ao mês, os artistas do turbo-folk mostravam um mundo de glamour e alegria embalado por canções de amor:



Do outro lado, um pequeno grupo de bandas independentes que se opunham ao nacionalismo cego tanto ideologiacamente como esteticamente e que tinham na rádio B92 um dos poucos canais de divulgação:



Legal, né? Provavelmente, o Darkwood Dub voltará a ser assunto desse blog.

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