terça-feira, 8 de março de 2011

Diamanda Galás

Porque o mundo da música precisa de cantoras que não têm medo de explorar timbres "feios" e incômodos. E porque o mundo em geral precisa de mulheres que não têm medo de parecer loucas, de enfiar o dedo pra valer na ferida e, de quebra, mandar à merda vários conceitos estúpidos de "elegância" e de "bom gosto ao se vestir":


(vale assistir a todas as partes do show, disponíveis nesse mesmo canal do youtube)

quarta-feira, 2 de março de 2011

440Hz edição extra: Rock japonês - no Brasil

Rock andrógino otaku

Guitarras distorcidas, maquiagem, animes, orkut e tambores de maracatu: benvindo ao mundo peculiar do rock nipo-brasileiro

Antes de ler o texto, assista ao videoclipe abaixo:



Se você achou um lixo, tenho uma má notícia: essa é uma das bandas pioneiras de J-rock (rock japonês) e há grupos semelhantes no Brasil. Se você ficou interessado(a) no vocalista com cara de menina, também tenho uma má notícia: dificilmente você irá encontrar um clone do Atsushi Sakurai dando sopa pelos trópicos. Mas se você simplesmente gostou do som, eu finalmente tenho uma boa notícia: nas próximas linhas você vai saber mais sobre a música pop japonesa e sua influência no Brasil.

Não se sabe exatamente quando o rock deu as caras no Japão, mas ele começou a ganhar força nos anos 80 com as bandas X Japan e Buck Tick. Atravessou as fronteiras da terra do sol nascente no fim dos anos 90 devido a dois acontecimentos marcantes. O primeiro foi a morte de Hide, guitarrista do X Japan que em 1998 se enforcou com uma toalha de rosto presa à maçaneta da porta do banheiro do hotel onde estava hospedado. Além das circunstâncias esdrúxulas, que dão margem a teorias da conspiração, a morte de Hide foi notícia no mundo todo por desencadear um fenômeno mais ou menos comum no Japão: quando alguém muito famoso ou querido se suicida, alguns fãs se matam exatamente da mesma maneira.

O segundo fator que fez o J-rock se popularizar no Ocidente foi o surgimento de sites de compartilhamento de arquivos, cujo precursor foi o Napster, inaugurado em 1999. Com o acesso a praticamente todo material produzido pelas bandas de lá, não demorou muito para que o J-rock ganhasse sua versão brasileira. Segundo Hick Duarte, fundador do site Radio Blast!, especializado em música pop oriental, os primeiros grupos foram Psygai e KuroHana, ambos do Rio de Janeiro e criados logo no começo dos anos 2000.

Made in Brasiru

Embora não seja um gênero musical propriamente dito, há duas características que diferenciam as bandas de J-rock (japonesas ou não) das demais: as letras em japonês e o visual kei. Criado nos anos 80 como uma maneira de confrontar uma sociedade extremamente regrada e padronizada, o visual kei é marcado por cabelos coloridos, indumentária espalhafatosa que pode ser inspirada no glamour dos anos 50, nos exageros da corte francesa do século 18 ou nas roupas negras do gótico oitentista, e muita androginia. No caso das bandas japonesas Malice Mizer e Versailles, por exemplo, é impossível perceber que aquelas donzelas de vestido e maquiagem são, na verdade, homens. Mas, se para os ocidentais de cabeça fechada essa confusão de gêneros é a prova de que o fim do mundo se aproxima, para os japoneses isso faz parte de uma tradição milenar. “No Japão, antigamente, tinha teatro que era só homem que apresentava. Os que tinham rosto mais feminino faziam papel de mulher. A androginia está presente desde a antiguidade”, explica Haru, baixista da banda paulistana Erisu. “Pras meninas, quanto mais o cara parece com mulher, mais bonito ele se torna. E se ele se enrosca com outro homem de brincadeira, melhor ainda”, completa, rindo.

Zan e Yue, guitarristas da Erisu em 2007, quando a banda usava visual kei


A Erisu existe desde 2004 e faz covers de bandas como Dir en Grey, Ayabie e Nightmare. “As bandas de J-rock fazem músicas que contam uma história profunda, passam uma mensagem. Se você quiser, até pode ouvir por puro entretenimento, mas não precisa ser só isso”, explica o vocalista, Camui. Já para Haru o mais interessante é a mistura de estilos: uma mesma banda pode agregar influências de metal, hard rock, punk, eletrônica e até de música brasileira. O Dir en Grey, um dos nomes mais consagrados da cena japonesa, vai do nu metal pesadão para a balada em poucos compassos e trata de temas polêmicos, como aborto.

Os integrantes da Erisu até tentaram adotar o visual kei no começo da carreira, mas hoje apostam numa produção mais clean. “Aqui é difícil encontrar o material que você precisa para uma produção decente. Até tem um pessoal que tenta, mas fica na tentativa”, opina Camui. Esse é apenas um dos perrengues pelos quais as bandas brasileiras de J-rock passam. Encontrar integrantes é um problema e as cinco bandas com quem conversei passaram por trocas intensas de formação. Ren, baixista da Kazoku NiBan, conta que ele e o vocalista, Nel, vinham desde 2006 tentando montar um conjunto de J-rock. Conseguiram uma formação estável só na metade de 2009 e o show de estreia aconteceu em setembro de 2010: “Encontrar gente que toca é fácil, difícil é achar quem é responsável e leve a sério”.

Andy, Nel e Nah no show de estreia da Kazoku NiBan no Animecon 2010


O que mais chamou a atenção de Ren no J-rock foi a sonoridade do idioma japonês, totalmente diferente do inglês e das línguas latinas. Ironicamente, o idioma é um dos maiores entraves na hora de achar lugares para tocar. Mas não chega a ser uma barreira intransponível. Em setembro de 2010, a Erisu participou de um festival no Manifesto Bar, muito frequentado pelo pessoal que curte metal, e, apesar das torcidas de nariz iniciais, o público acabou gostando do que ouviu. Quando entrevistei a banda, eles estavam com show marcado no Cerveja Azul, bar que também não tem nada a ver com a cultura japonesa. Além disso, alguns clubes pequenos abrem espaço para baladas esporádicas de J-rock como Macabre, Visual KK, Alterna J-rock e Miss Take. Em 2006, a própria Erisu organizou uma noite chamada Lust no Dynamite Pub, na Vila Madalena. O evento teve um público bom, mas nem sempre é assim: “O problema é que os fãs são acomodados e acabam não indo. O por que a gente ainda não sabe”, revela Camui. Talvez um dos motivos seja a pouca idade dos fãs de J-rock, que acabam barrados em casas noturnas.

Erisu, No Manifesto


As bandas têm mais espaço para se apresentar em encontros de anime (aqueles desenhos animados japoneses em que todos os personagens têm olhos enormes), mas o público que gosta de J-rock não é necessariamente o mesmo que curte Pokemon. “Nesses eventos, o pessoal já conhece a cultura japonesa, então aceita com mais facilidade”, diz Camui. “Tocar em eventos de anime acaba sendo um mal necessário”, completa o guitarrista Zan, também da Erisu. Bruno Bort, guitarrista da Plaise a Dieu, não vê com bons olhos a confusão entre o universo dos animes e o do J-rock: “Tem muita banda que cresce porque toca música de anime. É vender seu som pra atrair público”. A Plaise a Dieu existe desde meados de 2005 e é formada por integrantes de Santos e de São Paulo. O repertório é baseado em covers de L’arc-en-Ciel, Dir en Grey e MUCC e em composições próprias em japonês.

Paula Magario, Rafael Masoni e Bruno Bort, da Plaise a Dieu, encarando o "mal necessário"


Mas o fato é que as próprias bandas japonesas de rock gravam temas de anime e isso acaba sendo um canal para que gente do mundo todo conheça o estilo. E, se o J-rock brazuca não anda bem das pernas, não dá para culpar só os fãs ou os donos de casas de show. Os grupos daqui ainda são muito amadores, tanto que a maior plataforma de divulgação são comunidades no orkut. Muitos têm página no myspace sem música nenhuma, outros disponibilizam faixas em mp3 ou vídeos no youtube com qualidade de áudio precária. As bandas formadas por pessoas na faixa dos 20, 25 anos, sofrem com a falta de tempo para ensaiar, já que os integrantes trabalham e estudam. E as montadas por adolescentes em busca de diversão acabam assim que a curtição passa e os interesses mudam.

Planeta otaku

Se eventos de anime são um mal necessário para as bandas de J-Rock, também são para quem resolve escrever sobre elas. Assim, no dia 10 de outubro, parti para o Anime Fantasy, realizado em uma escola do bairro da Saúde. Para quem nunca viu sequer um episódio de Dragon Ball Z, entrar em um evento de anime é como aterrissar em um planeta onde quem usa calça jeans e camiseta é imediatamente identificado como alienígena – só pra enturmar quem também nunca foi: imagine fãs de Star Wars, adicione os elementos “pouca idade”, “travestismo”, “bebida à base de leite de soja” e voilá!


Após caminhar por entre guerreiras sexies, Super Mario e uma colegial que até agora não sei se era uma menina com muito buço ou um cara com pouca saia, e de assistir a um concurso de cosplay, fui para o auditório do colégio, onde rolou o show da banda Unmei. Apesar de ter uma formação tipicamente de banda de rock e de não economizar em distorções e solos, a Unmei toca apenas temas de anime e de totsukatsu (programas trash-cult como Jaspion e Jiraya). Com um repertório tão específico, ela só se apresenta em eventos de anime. E foi nessas convenções que os vocalistas Bruno Piatto e Thaís Sakura se conheceram. Desde 2006, eles participam de concursos de animekê – só pra esclarecer quem não sacou o trocadilho: imagine um karaokê, adicione os elementos “cardápio de músicas composto exclusivamente por temas de anime” e “competição” e tcharã! “Em 2008, tanto eu quanto a Sakura brilhamos bastante em eventos de anime”, conta Piatto. “Os concursos têm três categorias: Iniciante, A e Especial. Em 2008, ela passou pra categoria A e eu passei pra Especial”.

Bruno Piatto e Thaís Sakura agitando a massa otaku


Apesar da ligação umbilical com o mundo dos animes, o único integrante da Unmei que se considera um fanático é o guitarrista Rafa Weiss. Sakura gosta só de mangás e o baterista, Victor Hasselmann, não tem medo de assumir que odeia animes e mangás. Mas todos adoram as músicas dos programas e, no show, se empolgavam ao entoar versos como “Pelo mundo viajarei tentando encontrar/ um pokemon e com o seu poder tudo transformar”. O público também estava animado e cantou junto, levantou plaquinhas declarando seu amor pelo guitarrista Hell e foi ao delírio quando a banda encerrou o show com “Pegasus Fantasy”, tema de Cavaleiros do Zodíaco que deve ser a “Smoke on the Water” otaku.

Esquadrão nipo-nerd-headbanger

Mas nem toda banda de J-Rock está fadada a passar o resto da existência tocando para algumas dezenas de adolescentes fantasiados de Naruto. A Gaijin Sentai é um ótimo exemplo. Formada em 2004 por músicos com idade média de 25 anos residentes em Caraguatatuba, Mogi das Cruzes e São Paulo, começou como uma brincadeira: “A gente montou a banda pra tocar músicas do Jaspion, Changeman, Kamen Rider, essas séries que passavam na rede Manchete”, conta o vocalista Nordan Manz. O nome Gaijin Sentai significa “esquadrão estrangeiro” e já é uma referência aos programas, assim como o visual da banda: “Nesses esquadrões, cada herói usa uma cor na roupa de batalha. Nós usamos verde para o tecladista, azul para o guitarrista, vermelho para o baixista e amarelo para o baterista”, detalha o tecladista Jefferson Amorin.

Gaijin Sentai e seu figurino inspirado nos seriados da Manchete


O que diferencia a Gaijin Sentai é que, apesar do compromisso inicial ser com a diversão, todos os integrantes já tinham experiência profissional com música. Além disso, o grupo vai além da mera reprodução de temas de seriado e aposta em composições próprias em que a influência da música de anime e de totsukatsu é misturada com hard rock, heavy metal e enka, a música tradicional japonesa. No caso da faixa “Jaguatiman vs Sunrider”, disponível para audição no myspace da banda, o caldo é engrossado por tambores de maracatu. A música foi escrita especialmente para uma parceria com o cantor japonês Eizo Sakamoto (ex-JAM Project, Anthem e Animetal), que a Gaijin conheceu no Anime Friends de 2004. “Um personagem representa o Brasil e outro, o Japão. A gente criou o Jaguatiman, que é de “jaguatirica”, e o “cavaleiro do sol”, que representa os valores do Japão, e buscamos na música elementos que pudessem refletir isso. Usamos tambores japoneses (taikô) e a percussão e o ritmo brasileiro do maracatu”, explica Nordan.

Com ao menos trinta shows por ano, a Gaijin já tocou em eventos da colônia japonesa no bairro paulistano da Liberdade, em festivais de rock e metal, na Virada Cultural, em SESCs e em eventos de anime na Argentina, no Chile e em Portugal (onde também fez um pocket show em duas filiais da rede de livrarias Fnac). Tem um fã-clube oficial chamado Gigantes Guerreiros e um admirador mais exaltado tatuou o símbolo da banda, mesmo sob os gritos de “não faz isso, peloamordedeus!” do esquadrão todo. Sobre a suposta acomodação dos fãs de J-rock, Nordan é categórico: “Eu nunca culpo o público, ele não está acomodado. Na verdade, foram as pessoas (das bandas) que não conseguiram cativá-lo”.

Outra iniciativa profissa é o site Radio Blast!, criado em agosto de 2007 pelos primos Hick Duarte e Gui Dix Est, de Uberlândia. Fãs de música pop oriental, eles montaram o site para mostrar que esse universo vai muito além dos temas de anime. “A rádio surgiu de um experimento simples: contratamos um servidor de streaming com limite para trinta ouvintes e começamos a colocar os programas no ar”, conta Rick. A web rádio cresceu tanto que, em dois anos, a capacidade de streaming teve que passar de trinta para 400 ouvintes. Atualmente, o site conta com cinquenta colaboradores, que fazem programas, assinam colunas e cobrem eventos e festivais no Brasil todo. Há bastante espaço para bandas nacionais de J-rock, mas de todas que já foram entrevistadas e perfiladas pelo Radio Blast!, Hick calcula que apenas umas cinco ainda estejam na ativa.

Saionará, trouxas

O J-rock é um universo que comporta grupos e artistas dos mais diferentes estilos (ou de todos os estilos misturados). Se você detestou o clipe postado lá em cima, tente conhecer as outras bandas citadas. Se continuar achando um lixo, tenho uma boa notícia: mantenha-se longe de eventos de anime e estará a salvo do J-rock. Mas se você se apaixonou já à primeira audição ou superou o estranhamento inicial e acabou gostando do som, tenho uma má notícia: J-rock vicia. Você passará horas fuçando na internet, ficará com músicas martelando na cabeça e se surpreenderá cantarolando em “japonês embromation”. Quando começar a sonhar com “Pegasus, ajuda o teu cavaleiro/ Gelo, dragão e os guerreiros...”, talvez seja hora de procurar ajuda profissional.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

440Hz: Horizonte de eventos Tommy Hilfiger

Tô relendo o ótimo livro Pattern Recognition, do pai do cyberpunk William Gibson, e um parágrafo em especial chamou minha atenção. Usando a grife Tommy Hilfiger como exemplo (o livro trata muito de marcas, principalmente as de roupa), Gibson comenta o fenômeno da diluição:

This stuff is simulacra of simulacra of simulacra. A dilucted tincture of Ralph Lauren, who had himself diluted the glory days of Brooks Brothers, who themselves had stepped on the product of Jeremyn Street and Savile Row, flavoring their ready-to-wear with liberal lashings of polo kit and regimental stripes. But Tommy surely is the null point, the black hole. There must be some Tommy Hilfiger event horizon, beyond which is impossible to be more derivative, more romoved from the source, more devoid of soul. Or so she hopes, and doesn't know, but suspects in her heart that this in fact is what accounts for his long ubiquity.
(Tradução do negrito: Deve haver um horizonte de eventos Tommy Hilfiger, além do qual é impossível ser mais derivativo, mais distante da fonte, mais desprovido de alma)

Aí fiquei pensando: E na música, quais seriam os casos extremos? Até agora não consegui achar nenhum que tivesse três fases de diluição, mas alguns artistas são tão profissas na arte de diluir que de uma tacada só já transformam vinho em água. Vejamos:

Metal Progressivo/Metal Melódico/ Power Metal e afins

Nos anos 70, bandas como Yes e Emerson Lake & Palmer começaram a misturar música clássica dos séculos 18 e 19 com guitarras e sintetizadores. Uma ótima maneira de afetar erudição: pegar o que o gosto ocidental já digeriu e devolver como novidade em uma época em que compositores como Stockhausen já haviam mandado os conceitos tradicionais de melodia, harmonia e ritmo pro espaço. E aí os rédibenguers aproveitaram o que o Yes e o ELP tinham de mais insuportável, elevando à décima potência o vistuosismo vazio e a necessidade de explicitar a influência (pseudo)erudita. E ao trocarem o rock pelo metal acrescentaram à já deprimente receita vocalistas castratti, guitarristas que não entenderam a diferença entre música e fórmula 1 e, nos piores casos, letras falando sobre dragões, espadas e gnomos.



Cantores líricos pop

Quando os três tenores e Monserrat Cabalet resolveram fazer duetos com artistas pop, abriram a porteira para um dos fenômenos mais trash dos anos 90, o dos cantores líricos pop como Andrea Bocceli e Sarah Brightman, que vendiam pastiche da pior espécie travestido de música erudita. A coisa se espalhou e até no Brasil a moda chegou. Lembram daquela dupla Rinaldo & Liriel, que se apresentava no Raul Gil? Não? Então vou refrescar sua memória:



Emerson Nogueira

Esse cara deveria ganhar o título de diluidor universal, porque ele consegue transformar toda e qualquer coisa em música de barzinho, e assim The Police soa exatamente como Toto, que soa exatamente como Supertramp, que soa exatamente como Eagles... O engraçado disso tudo é que ele não se apresenta em barzinhos em que as pessoas ficam frustradas de ter que pagar 5 reais pra ouvir essa merda, ele se apresenta em casas de show grandes em que as pessoas ficam felizes de pagar 50 reais pra ouvir essa merda.



Mais algum??

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O amor é lindo - e barulhento

Aproveitando o dia do Valentim, uma listchinha dos meus casais favoritos do mundo da música (e além):

1. Thurston Moore e Kim Gordon
Se casaram e montaram a melhor banda do mundo. Só isso.


Sonic Youth - Titanium Expose
Enviado por Sonic-Youth. - Veja os últimos vídeos de música em destaque.


2. PJ Harvey e Nick Cave
Fico triste que essa relação não tenha durado muito, porque curto quando duas pessoas estranhas se unem. No início de suas carreiras, tanto PJ quanto Cave faziam canções viscerais sobre amor e a obsessão que o acompanha (tipo este melô da romântica psicopata). Até onde eu sei, a única colaboração artística é a música Henry Lee, que tem o vídeoclipe mais sexy da história:



3. Lou Reed e Laurie Anderson
Lou Reed chegou a fazer tratamento com choque elétrico quando adolescente pra controlar seus "impulsos homossexuais" e foi casado com uma travesti. Aí, quando já era um senhor de certa idade, resolveu sossegar ao lado de Laurie Anderson, que, como ele, é uma lenda da vanguarda novaiorquina. Eles funcionam no esquema "cada um no seu quadrado", mas às vezes fazem uns shows juntos:



4. Michael Gira e Jarboe
Fico triste quando lembro que eles não estão mais juntos, porque perto deles PJ Harvey e Nick Cave são a quintescência da normalidade. Só pra ter uma ideia: Michael Gira conta que se mudou pra Nova York porque achava legal a cidade ser infestada por ratos gigantes e Jarboe certa vez disse que iria fazer uma trepanação - não sei se chegou as finalmentes. Ah, e eles tocavam juntos numa bandinha aí chamada SWANS:



5. Kurt Cobain e Courtney Love
Sou uma das poucas fãs de Nirvana que não odeia a Courtney Love - quer dizer, a Courtney Love de hoje eu acho o fim do mundo, mas ela era bem legal na época em que cantava "and the sky was all violets/ i want again but violent, more violence" - aliás, dizem que esse disco foi inteiro feito pelo Cobain, vai saber... O fato é que eles se conheceram trocando socos em um bar. Algum tempo depois, ela deu de presente pra ele uma caixinha com vários mimos, incluindo um pedaço de pano que havia esfregado na xana. E algum tempo depois, eles se casaram no Havaí: ele de pijama e ela com um vestido da atriz Francis Farmer, que foi internada num manicômio.



6. Patti Smith e Robert Mapplethorpe/ Patti Smith e Jim Carroll
Conheço quase nada do fotógrafo Robert Mapplethorpe ou do escritor/cantor Jim Carroll, mas a Patti Smith é fodona e a história que une os três é mais foda ainda. Patti casou com Robert, ele descobriu que era gay e começou a namorar um cara, mas continuou morando com Patti por mais um tempo - e foi aí que ela começou um caso rápido com Carroll. Mas a parte punk da história é a seguinte: durante a tarde, enquanto Patti estava trabalhando numa livraria (ela nem cantava nessa época), Robert e Carroll faziam programa juntos, Robert pra pagar o aluguel e Carroll pra comprar heroína. Detalhe: ela sabia de tudo. Detalhe 2: depois disso ela ainda casou com Allan Lanier, do Blue Oyster Cult, e com Fred Sonic Smith, ex-MC5.



7. Marina Abramovic e Ulay
Casal não-musical mas provavelmente o mais punk da lista. Quando eles se conheceram, Marina fazia performances envolvendo fogo, facas e armas, e Ulay explorava questões de gênero - metade do rosto dele era masculina e outra metade feminina, um troço bem estranho. Aí eles começaram a namorar e a fazer performances juntos, entre elas Relation in Time, em que passaram 17 horas presos um ao outro pelo cabelo:

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Clássicos do dia 7: Metal Machine Music - Lou Reed



O urinol de Lou Reed

Na sexta-feira, dia 4 de fevereiro de 2011 fiz uma resolução: iria ouvir de uma só vez os quase 65 minutos de Metal Machine Music – e tentar não entrar em colapso durante o processo.

Figura fácil em listas de piores discos de todos os tempos, esse álbum duplo lançado por Lou Reed em 1975 é barulho em estado bruto, uma torrente amorfa de distorção, feedback, ruídos de fitas em rotação acelerada e microfonias capazes de matar um chiuaua. Perto dele, qualquer disco do Sonic Youth parecer canto gregoriano. E não é nem uma experiência transcendental, em que lampejos de beleza despontam do aterro de barulho – como é com Glenn Branca e os eletroacústicos. MMM está na mesma categoria de Leng Tché e Delirium Cordia (discos sobre os quais falei aqui): é terrorismo sonoro, tortura por meio de frequências. Aliás, é pior que os outros dois discos, pois aqueles ainda têm uma narrativa (ainda que narrativa de filme de terror gore), enquanto MMM vai do nada a lugar nenhum – e ainda leva parte da lucidez e da audição do ouvinte no caminho. Então por que Lou Reed lançou essa porra e, até hoje, sai pelo mundo fazendo shows com um “repertório” semelhante? Ato de rebeldia/sadismo? Provavelmente. Mas não é só isso.

A arte possui suas limitações, suas fronteiras (claro, se não houvesse fronteira nenhuma, tudo seria arte, portanto nada seria arte, e portanto ela nem existiria). Artistas de importância, aqueles lembrados por séculos a fio, são justamente os que alargam essas fronteiras. Na maioria das vezes, isso é feito de maneira sutil, uma transformação lenta e gradual. Mas de vez em quando acontece de um louco criar uma obra com linguagem tão distante das antigas fronteiras que a primeira reação do público será um berro de “Isso não é arte!”. Essas são as obras de vanguarda.

A função delas não é propiciar experiências prazerosas ao público, e sim abalar suas estruturas psíquicas, fazendo toda uma sociedade rever seus conceitos de arte e beleza. A alegoria é meio boba, mas imaginemos a arte como um círculo. Num momento x ele tem 20 km de diâmetro. A expansão abrupta provocada por alguma obra de vanguarda faz com que o círculo passe a ter 25 km de diâmetro. E o que isso significa? Significa que tudo o que existe nesses 5 km passa a ser possível. Dessa maneira, Metal Machine Music, de 75, pavimentou o caminho para a no wave, o Sonic Youth, as sinfonias de guitarra de Glenn Branca, a música industrial.

Metal Machine Music é comparável ao urinol de Duchamp: feio, incômodo e aparentemente sem sentido, porém absolutamente necessário para o que entendemos hoje como arte.
Aqui estão alguns reviews legais de MMM. O primeiro, do Lester Bangs, é impagável:

http://www.rocknroll.net/loureed/articles/mmmbangs.html

http://www.guardian.co.uk/music/2010/apr/11/morley-lou-reed-metal-machine

http://www.rollingstone.com/music/reviews/album/2747/21123

ps: A quem interessar possa, saí ilesa da experiência de encarar MMM. Agora, se eu vou escutá-lo de novo? Talvez... mas não nessa encarnação.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Música instrumental brasileira não-coxinha

Certamente, a forma musical mais importante no Brasil é a canção (e aí não estão só Chico Buarque e Tom Jobim, mas também Tati Quebra-Barraco, Ratos de Porão, "Fugidinha com você" etc). Mas, de uns anos pra cá, está rolando um fenômeno bem legal de bandas jovens de música instrumental. E se ao ler a expressão "música instrumental" você já ficou com medo, imaginando uma legião de almofadinhas desfilando escalas mixopentahiperdóricas sobre a base de "Wave", CALMA. Porque essa nova geração da música instrumental não tem nada a ver com isso. Começa que as bandas não massacram clássicos da música brasileira que já foram massacrados 3865846 vezes antes e por isso hoje se tornaram insuportáveis (você consegue ouvir as quatro primeiras notas de "Wave" sem querer matar alguém? Eu não). E também não têm medo de distorção. E, o melhor de tudo, abandonaram a figura do solista virtuosi e apostam em uma linguagem em que o som da banda como um todo é mais importante que a exibição do umbigo de cada integrante. A seguir, algumas delas:

Hurtmold
Já falei dela aqui e é a veterana dessa geração. Perdeu uns pontos ao se tornar a banda base do Marcelo Camelo, mas ganhou todos os pontos do mundo quando alguns integrantes acompanharam Pharoah Sanders no show putaqueopariu que o mestre do free jazz fez em São Paulo no ano passado. O trabalho-solo do baterista/trompetista Maurício Takara também merece atenção.





A Banda de Joseph Tourton
Molecada do Recife que mostra que a competência juvenil pode ir alguns milhares de passos além da Mallu Magalhães. Ok, eles não têm 15 anos, mas também não passam muito dos 20. E fazem um som que passeia por guitarras noise, flautas bossa-nova e escaletas - sem nenhum "tchubaruba" no meio.



Macaco Bong
O som do Macaco Bong é mais calcado no rock, ainda que não tenha nada a ver com a forma estrofes-ponte-refrão. Entrevistei os caras ano passado (a matéria deve sair em breve na +Soma) e o guitarrista Bruno Kayapy disse uma das melhores frases que já ouvi de entrevistado: "Adoro Pat Metheny, mas eu considero esteticamente o Cannibal Corpse uma das melhores bandas".



Rá! E eles também curtem Nirvana!!! (acabei de descobrir esse vídeo, por isso a animação)



Satanique Samba Trio
Na minha humilde opinião o SST é o mais foda de todos. A banda tem uma proposta estética diferente das que citei anteriormente: enquanto as composições daquelas são (ou ao menos parecem ser) resultado de horas de jam session e correm fluidas, indo aos poucos de um clima x para um clima y, o Satanique Samba Trio trabalha com blocos sonoros que se alternam bem rápido e têm bastante influência da música nordestina. Resumindo: é tipo um John Zorn do cangaço. Fora que uma banda que batiza suas composições com títulos como "Lambada Post-Morten" e "Cabra da Peste Negra" ganharia meu eterno respeito mesmo se soasse como Maria Rita fazendo samba.


(ah, esqueci de dizer que o Satanique Samba Trio montou um trio elétrico e vem promovendo "micaretas do capeta" na capital federal. Precisa mais?)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Joguinho das semelhanças

Eis que o blog (bem legal, por sinal) Música Para Seus Ouvidos lançou um pacote de resenhas de discos pesadões de 2010 e logo o primeiro texto é sobre o mais recente do Swans - e é sempre legal quando as pessoas lembram do Swans. Mas enquanto eu lia o texto, também comecei a me lembrar de algo: da resenha que eu fiz desse disco em agosto de 2010 pro Rraurl. Acontece que o texto do MPSO está estranhamente parecido com o meu. Aqui vão alguns trechinhos que não me deixam mentir (os do MPSO estão em azul e os do meu, em vermelho):

Antes do lançamento do novo álbum do Swans, o vocalista e líder Michael Gira fez questão de frisar que isto não significaria apenas uma reunião. Como tudo o que faz na vida, Gira, de cara feia, foi logo afiando a sua língua maldita: “não é um ato de nostalgia imbecil!”.

Após um hiato de 13 anos, a banda Swans voltou à ativa no começo de 2010 e agora está lançando um disco novo, My Father Will Guide Me Up a Rope to the Sky. [...]... o vocalista/guitarrista Michael Gira deixou bem claro no site da gravadora Young God Records que "ISSO NÃO É UMA REUNIÃO. Não é um ato de nostalgia imbecil. Não é repetir o passado. Após cinco álbuns do Angels of Light (banda que Gira formou depois do fim do Swans), eu senti necessidade de seguir EM FRENTE, em uma nova direção, e reavivar a idéia do Swans está me permitindo fazer isso".

Para quem não sabe, o Swans é daquelas bandas espetaculares que surgiu no começo da década de 1980, junto com Sonic Youth e afins, e ficou eternamente no submundo adorado por pessoas do submundo. Em seus primeiros anos de sons extremamente pesados e sombrios, com características mais ligadas ao metal, o grupo foi amaciando e modernizando a sua música, mas sem nunca sair do underground. As coisas ficaram mais bem trabalhadas, o que não significa que ficaram alegres e sorridentes.

O Swans foi formado na Nova York em 1982 e fez parte da segunda geração da no wave, mesma cena em que nasceu o Sonic Youth. Nesse primeiro momento, a música da banda era bem pesada (resvalando no metal), arrastada e repetitiva. A temática das letras girava em torno de morte, violência, crueldade. Imagine um disco do Slayer em rotação lenta: é mais ou menos isso. Em 1986, com a entrada da vocalista/tecladista Jarboe, o som do grupo começou a passar por um lento processo de mudança: o andamento deixou de ser tão lento, a repetição ad nauseum de uma mesma célula musical deu lugar a estruturas mais convencionais (baseadas em estrofes e refrões), o vocal ficou mais melodioso e as guitarras barulhentas abriram espaço para instrumentos acústicos. A agressividade do período inicial foi abrandada, sem que a banda se tornasse comercial ou perdesse seu caráter sombrio.

O bom de ver álbuns recentes de pessoas competentes e com pensamentos desnorteados de caos total é perceber a qualidade tecnológica aliada a sons realmente impactantes. My Father… é, acima de tudo, um álbum muito bem encaminhado e executado, desde as nuances de 9 minutos da faixa de abertura “No Words/No Thoughts” até a delicadeza imponente de “Little Mouth”. O que vale perceber é a mudança de espírito em cada faixa, que sai do mais puro silêncio inocente para tensões de graves repetitivos, algo muito claro na música “You Fucking People Make Me Sick”, que possui até participações leves de Devendra Banhart e da filha de 3 anos de Gira, para logo mais ser cortado por uma sinfonia assustadora.

O disco abre com "No words/no thoughts", uma pedrada de 9 minutos e meio em que uma sucessão de sinos, guitarras distorcidas e ruídos fantasmagóricos maravilham e massacram o ouvinte. Essa faixa possui duas características marcantes e que acompanham o álbum como um todo. A primeira delas é o uso da dinâmica. Em uma época de arquivos digitais em que o som é compactado e comprimido, é interessante ver uma banda trabalhar com diversas intensidades em uma mesma música. A passagem da serenidade para o caos pode se dar de maneira gradual (em crescendos) ou abrupta (se o Swans original trabalhava com uma constância que chegava a ser agonizante, agora há sempre uma surpresa no caminho). Já a passagem do caos para a serenidade é sempre instantânea, levando a uma sensação de alívio imediato, mas que não dura muito tempo. [...] No quesito susto, destaca-se "You Fucking People Make Me Sick". Com participação especial do bicho-grilo Devendra Banhart e da filha de três anos de Gira nos vocais, a faixa começa com um clima meio hippie e inocente. Até que, sem nenhum aviso prévio, as vozes e violões simplesmente somem, dando lugar a um bumbo grave e a um piano literalmente socado. Trompetes e trombones dissonantes e assustadores completam o filme de terror sonoro que se desenrola por dois minutos.

Agora o que mais me impressionou nas semelhanças não foi nem que ambos falamos que no começo o som do Swans era mais agressivo e ligado ao metal e com o passar dos anos isso foi mudando sem que a banda perdesse o caráter sombrio, ou que uma das características marcantes do novo disco é a mudança abrupta de climas, ou ambos termos destacado que a faixa de abertura tem 9 minutos, ou mesmo usado a palavra "assustador" para falar da faixa You Fucking People Make Me Sick. O que me deixou mais impressionada é que esses trechos que selecionei aparecem exatamente na mesma ordem nos dois textos: sim, os dois começam com Gira dizendo que não é uma reunião, seguem para a origem e história da banda e aí entram na descrição de faixas do disco novo.

Sei não, mas me parece que rolou uma inspiração aí - ou então esse foi um caso bizarro que coincidência como quando eu e uma amiga do colegial sonhamos na mesma noite que estávamos em Alto Paraíso com nossos pais e uma cobra aparecia. Vou botar o link pra esse post nos comentários de lá. Esperemos a resposta do autor.

ps: não tô acusando ninguém de nada e mesmo que tenha rolado uma chupinhação cara-dura não vou fazer escândalo - até porque sou a favor do copyleft e tal. Mas sei lá, talvez um agradecimentozinho fosse gentil. Ou me pagar uma cerveja da próxima vez.