domingo, 28 de agosto de 2011

Clássicos do dia 7: Diamanda Galás - Masque of Red Death pt. 3



E eis que chegamos à última parte da trilogia Masque of Red Death, o disco You Must be Certain of the Devil. Enquanto as letras do primeiro disco eram, com exceção de uma, tiradas do Antigo Testamento, e as do segundo disco de poemas franceses do século 19, as letras de You Must be Certain of the Devil são de autoria da própria Diamanda Galás, com apenas alguns excertos bíblicos no meio.

Por isso, encontramos referências diretas a AIDS, à polêmica de que a doença seria um castigo divino e ao tratamento dispensado aos infectados:

“Do you fear the cages they are building in/
Kentucky Tenessee and Texas/
while they are giving ten to forty years to find a cure?//
In Kentucy Harry buys a round of beer/
to celebrate the death of Billy Smith, the queer/
whose mother still must hide her face in fear”
(Let’s not chat about despair)

“The devil has designed my death/
and he’s waiting to be sure/
that plenty of his black sheep die/
before he finds a cure”
(Let My People Go)

“... the red eyes of the pentecostal killers/
and the black eyes of roman catholic killers/
and the blue eyes of the pinhead skindhead killers”
(Malediction)

É interessante ver como de um disco para o outro a música vai, de certa forma, de desradicalizando. É claro que a temática continua pesada e os arranjos (especialmente a parte da voz) continuam muito longe do convencional, mas em You Must be Certain of the Devil é possível identificar traços de blues no piano de Let’s not Chat About Despair, e de spiritual em You Must be Certain of the Devil, faixa que também tem um clima alegre, proporcionado pelo ritmo e pelo uso do órgão Hammond – ainda que esta alegria seja usada de maneira irônica, para criar um contraste com a letra, nada alto-astral, e com os berros medonhos que aparecem no final. E Double Barrell Prayer, que virou videoclipe, não soaria completamente alienígena se tocada em um clube gótico (não consegui incorporá-lo, então se quiser ver, só clicar aqui).

Há também no disco duas canções tradicionais americanas: Swing Low Sweet Chariot (cujo arranjo eu devo confessar que acho muito ruim) e Let my People Go. Esta última é, originalmente, um spiritual sobre Moisés atravessando o Egito levando o povo hebreu. Mas Galás mudou a letra (para ter uma ideia, o novo refrão é: “O Lord Jesus, do you think I served my time?/ The eight legs of the devil now/ are crawling up my spine”) e criou um arranjo bastante sombrio utilizando apenas voz e piano.

A última faixa do disco é o famoso salmo “The lord is my shepard”. Só que, em vez de musicar o texto bíblico, como fez em Divine Punishment, aqui Galás apenas recita as palavras, sem nenhum acompanhamento instrumental. É bastante angustiante e aflitivo, pois ela faz voz de quem não está conseguindo respirar direito. Soa como a última oração de um moribundo.

Abaixo, a famosa tatuagem de Galás:


2 comentários:

Leandro disse...

Tenho acompanhado o seu blog faz um tempo. Sempre muito legal os textos.

E essa terceira parte sobre a Diamanda Galás é a que mais gostei, até agora. Tá aí uma música que eu gostaria de ver ao vivo.

Raquel Setz disse...

Somos dois. Mas tô achando difícil ela pintar por terras brasilis... só se o SESC trouxer - alô, programadores da Mostra SESC de Artes, ficadica!